quarta-feira

28

dezembro 2011

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Disse o Cícero

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Cicero_aovivo_SolarBotafogo_2011

Assim que entrou em cena, Cícero se deparou com problemas no seu violão elétrico. Sem graça, pediu desculpas, disse que tinha acabado de passar o som e que tudo ia dar certo.  O público do teatro Solar de Botafogo, abarrotado em pleno recesso não-oficial de final de ano, com gente sentada pelas escadas, nem ligou. Eram todos fãs e estavam na mão do compositor.

Quando comentou sobre o coro de uma música em que a plateia participou (após insistentes pedidos do cantor), disse que em Belo Horizonte não tinha sido atendido e tinha ficado até sem graça. Um rapaz gritou “é mentira! eu estava lá!”. Desde que lançou o clipe de “Tempo de Pipa” em junho, uma viagem neo-hippie pelo bondinho de Santa Teresa, Cícero vem conquistando seguidores – de verdade, não no Twitter.

Lançado de maneira independente e disponibilizado gratuitamente em sua página, o disco “Canções de Apartamento” foi se espalhando e levando Cícero a tocar pelo Brasil, entrando em listas de melhores do ano de blogues (“não que isso seja importante”, disse após contar para o público sobre esse fato), começando a construir uma carreira. Conferir o burburinho foi o motivo da ida ao show.

Cícero gosta do palco. Pode ser somente uma empolgação inicial, fato é que a quantidade de trejeitos e gracinhas para plateia (como roer as unhas ao microfone apenas para ser repreendido por uma fã mais entusiasmada) beiram a afetação. O que pode atrapalhar ou ajudar, depende do público que ele estiver mirando.

Em certo momento, Cícero brincou com participação da plateia, dizendo que estava se sentindo a Maria Gadu. No ponto em que está, a comparação faz sentido, mais até do que as apontadas similaridades com Los Hermanos e Rodrigo Amarante. As boas letras estão prontinhas para as massas; “Ensaio Sobre Ela” é só botar pra tocar na novela.

Musicalmente, no entanto, tudo ainda soa bastante derivativo (Radiohead, LH): toda música inicia bossa, explode indie e fecha bruscamente, num formato repetitivo. Faria bem um despreendimento estético, experimentar mais. Caminho tem e a interessante versão de “You Don’t Know Me”, feita em cima de “João e o Pé de Feijão”, (ah, se Caetano vê…) mostra isso.

Antes do final, Cícero agradeceu aos fãs pela divulgação no Facebook e na internet (nessa ordem) e num discurso altruísta, convocou o público a ajudar mais artistas a aparecer publicando músicas de novos nomes em seus perfis, dividindo a própria audiência sem nem saber com quem.

Entre as canções o compositor sentia-se obrigado a se comunicar com o público, repetindo o agradecimento por todos estarem ali, emcerrando o papo com um “não tenho mais o que dizer”. Engano dele.

Ainda no começo da jornada, Cícero já tem um número relevante de fãs dispostos a ouvi-lo. Só isso deveria ser motivo para sentir-se seguro para arriscar mais e explorar o próprio talento. Em tempos de carreiras relâmpago, em que artistas se descobrem e amadurecem na frente do público, não dá para esperar muito tempo pra isso.

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