sexta-feira

11

abril 2008

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Dimensões

Written by , Posted in Música, Resenhas

Assistir ao filme U23D na tela gigantesca do IMAX, apesar dos muitos defeitos (um deles a chatice da banda e as malices do Bono, mas isso é outro assunto), é impressionante.

Antes do início da sessão, a caprichada apresentação do equipamento do cinema, uma tiração de onda com o sistema de som, como num baile funk , ainda é a melhor parte. Lá está o melhor que a tecnologia pode produzir, abusando de imagens geradas por computação gráfica, como “Sea Monsters”.

As pessoas riem sem parar, tentam tocar nos peixes nadando a sua frente e se abaixam quando um dinossauro passa por cima de suas cabeças. Uma ingenuidade que lembra os relatos das primeiras sessões de cinema, promovidas pelos irmãos Lumiére no século retrasado, quando as pessoas corriam do trem que vinha na direção da câmera.

Nos primeiros minutos, nos planos feito do meio da platéia, tem-se a nítida impressão de que as pessoas estão levantando o braço na sua frente, fazendo você mexer a cabeça pra desviar, como se estivesse num show. Produzir um efeito assim no espectador não é pouca coisa.

A massa pulando filmada de cima, a profundidade dos planos, o volume da luz, os closes, as novas possibilidades de se utlizar fusões (algo que, normalmente, pode cair na cafonice facilmente), tudo isso conta a favor.

Nos melhores momentos, é sim como se estivesse vendo ao vivo, principalmente nos enquadramentos mais próximos ao tamanho real das pessoas e objetos, como os feitos das laterais do palco.

Muitas vezes em um show “de verdade”, quando se está assistindo de longe, parece mesmo que se está vendo uma tela. Nesse sentido, o efeito 3D é parecido, pois as imagens tem profundidade que emulam essa sensação. Replica algo que está acontecendo “lá”.

A estrada até algo menos artificial ainda é longa. Os movimentos de câmera atrapalham o efeito, closes não funcionam bem e gráficos vetoriais ainda produzem um resultado mais realista.

Atualmente, o desconforto causado pelos óculos não é maior do que o fato de que você não pode mover a cabeça e ver o que quiser. É preciso manter o olhar fixo no centro da tela e permanecer passivo, recebendo as imagens como e na ordem em que são apresentadas.

Para tornar a experiência mais ativa, seria preciso inserir o expectador num verdadeiro ambiente de três dimensões, com visão 360°, podendo ficar no meio do palco e escolher o que ver. Virar para trâs para ver o baterista, para o lado e ver o guitarrista, editando nós mesmo, pelo olhar, o filme que assistimos.

Isso aplicado a filmes de ficção pode revolucionar a maneira de se fazer e se atuar para o cinema. Em vez do telespectador ser guiado, ele mesmo escolherá o que acompanhar, gerando conversas depois de um filme como :

— Você viu a cara do assassino na hora do tiro?

— Não, eu estava virado para refém, atrás da prateleira.

— Caramba, nem vi que ela estava lá também!

Voltando a música, no dia que essa tecnologia estiver suficientemente disseminada, nenhuma apresentação será realmente exclusiva. Se a cópia será tão boa quanto o original é outra história, pra fazer Walter Benjamin querer escrever outro ensaio direto do seu túmulo.

Integrante do System of a Down, Serj Tankian falou recentemente sobre shows holográficos, turnês mundiais feitas em um dia.

Hoje as pessoas chamam de papo de maluco. Amanhã podem estar assistindo um desses shows.

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