segunda-feira

12

setembro 2005

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De quatro

Written by , Posted in Música, Resenhas

Quem apostou que “4”, o novo (e triste, e lento, e calmo) disco do Los Hermanos, iria diminuir a euforia fãs, apostou errado. Em (mais) uma demonstração messiânica de aprovação aos novos caminhos propostos pela banda, 8 mil hermaníacos lotaram o Claro Hall ontem para assistir a primeira passagem do dos barbudos pelo Rio. Foi o maior show da banda em sua própria cidade.

Sem tentar amaciar o público com sucessos, o Los Hermanos abriu o show enfileirando músicas do “4”, começando por “Dois barcos”. Vendo o público cantar as novas canções como se fossem antigas, principalmente “O vento”, Marcelo Camelo e Rodrigo Amarante sorriram um para o outro, num misto de “ufa!” com “não disse?”, de alívio e de certeza. Camelo deixou isso bem claro nas vezes que se dirigiu ao público, fazendo aquela média, pra dizer o quão importante os fãs são para a banda.

Ao vivo, as músicas do “4” se relacionam melhor com as já conhecidas do que a audição dos discos parece indicar. É como se “4” fosse um “Ventura” cabisbaixo, a introspecção de um fazendo contra ponto com os arranjos alegres do outro, mas ainda assim complementares. Enquanto algumas faixas poderiam tranquilamente estar no disco anterior e fazem sentido dentro do show, caso de “Morena” ou “Condicional”, outras, como “Sapato novo” ou “É de lágrima” e seu momento Pink Floyd dos trópicos, não se misturam e inauguraram uma categoria inédita até então nos shows do do Los Hermanos, a de “música pra buscar um chope”, como se constatou no Claro Hall.

A divisão do repertório do show pode ser feita em duas partes; metade dedicado ao “4”, tocado na íntegra, e metade composto de músicas antigas, para alegria do público. Assim, hits do primeiro disco (“Quem sabe”), do “Bloco do eu sozinho” (“Todo carnaval tem seu fim”, “Retrato pra Iaiá”, “A flor” e “Sentimental”) e do “Ventura” (“O vencedor”, “Cara estranho”, “Último romance”, “Além do que se vê”, “Do sétimo andar” e “Conversa de botas batidas”) tiveram vez e garantiram os coros ensurdecedores de sempre.

Só mesmo a histeria dos fãs pra abafar péssima qualidade de som do que saía do PA, fato inexplicável em se tratanto do lugar, da banda e da importância do show. Do lado esquerdo do palco, baixo e bateria estavam altos, enquanto agudos rodopiavam pelo ambiente como pequenos furacões. Do lado oposto, acontecia o contrário. A situação pioroava bastante com as músicas antigas, como se a passagem do som tivesse privilegiado as novidades. De qualquer maneira, deu pra perceber um Camelo mais afinado (talvez porque as paisagens sonoras do “4” exijam bem mais dele como cantor) e a evolução na bateria de Rodrigo Barba.

Na turnê de um disco com tantas mudanças em relação aos outros, o momento em que Camelo apareceu no palco, pela primeira vez, tocando violão, enquanto Amarante tocava vibrafone, foi emblemático. Uma imagem inimaginável no primeiro disco, impensável no segundo, provável no terceiro e, agora, finalmente uma realidade. No bis, em clima de festa, os hermanos convidaram o amigo e produtor Kassin e o baterista/percussionista Stephan San Juan, ambos integrantes da Orquestra Imperial, para dar uma canja na imperialística “Paquetá”.

No final do ano é provável que a tradicional temporada no Canecão se realize. Pela reação de ontem, o grito dos fãs em “Além do que se vê” continua valendo. Marcelo pergunta e a platéia responde: “assim é que se faz!”.

 

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