sexta-feira

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março 2013

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CV no CV: a estreia do “Abraçaço”

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É invejável a disposição de Caetano. Em temporada de quatro shows (até domingo, ingressos esgotados), ontem o compositor estreou a turnê de “Abraçaço”, pisando no palco as 23h30 de uma quinta feira para um show de duas horas. Aos 70 anos.

Não que a idade seja relevante por si só. O que impressiona é que numa época da vida em que muita gente em sua posição estaria de sandália na praia, desacelerando ou, de maneira justa, aproveitando o próprio legado artístico, Caetano está pulando, com uma banda que tem metade da sua idade e – mais importante – criando material novo e relevante.

A “opinião pública”, se é que isso existe ou deva ser levada em conta, divide-se entre chamar de “múmia” os artistas mas velhos que seguem no mesmo caminho consolidado ou de “metido a moderninho” os que tentam se renovar. Goste ou não, esse fato é inegável que tentar se renovar é, no mínimo, mais arriscado, pra não dizer mais díficil.

Longe de ser apenas justificativas para um vôo furado, Caetano comprova ao vivo que continua seu caminho, sempre adiante. E se não for por nada mais, só o clássico instantâneo “Estou Triste” já valeria o disco. Felizmente, tem muito mais.


foto do Instagram do mestre Leo Aversa

Como de costume, a Banda Cê, formada por Pedro Sá (guitarra), Ricardo Dias Gomes (baixo) e Marcelo Callado (bateria), é uma atração a parte. Três discos depois, totalmente integrados e sem vergonha, o trio brincou de reproduzir o abraçaço da capa do disco, simulando uma divindade hindú e seu múltiplos braços ao redor de Caetano. Será uma pena se esse for mesmo o último trabalho do grupo.

Além da precisão das execuções, bom gosto dos timbres e criatividade para resolver com apenas três instrumentos arranjos complexos de outras músicas, o tempo da banda é talvez o sinal mais palpável de sua maturidade. Em músicas como “Triste Bahia”, do “Transa” (alô, Caetano! Queremos “Transa”!) a banda acelera e desacelera o compasso, coesa, como se uma só mão deslizasse o pitch do palco inteiro. Uma belezura que, ainda bem, podemos ouvir sempre juntos ao menos 2/3 (baixo e batera) no Do Amor.

Caetano tocou 10 das 11 músicas do novo trabalho (o Leo dá os detalhes do repertório), coisa que seria complicada até mesmo pra ele. A vantagem de fazer o show quatro meses após o lançamento do disco é que as pessoas já conheciam as música novas-já-não-tão-novas. O ambiente era de familiaridade com todas canções apresentadas.

E fez de tudo. Letras com tom de tuitadas (Caetano se divertiria no Facebook, aposto, talvez não mais agora), com frases feitas e gritos de ordem, como em “A Bossa Nova É Foda”, teve devaneios quase senis ao recitar, livro na mão e tudo, “Alexandre” (o Grande) e divertiu-se. E como divertiu-se, isso dava pra ver.

Tocou a plateia mais do que conversou, dançou, vibrou, se mostrou e contagiou. Artistas e público, saíram todos sentindo-se abraçados.

(poucos vídeos do show online, hein… pessoal tá cansando de upar? capaz)

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  1. thiago
  2. Bruno Barros
  3. fábio fernandes
  4. Ricardo Marins
  5. Victor

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