Chapa quente
Written by urbe, Posted in Urbanidades
O novo documentário de Michael Moore, “Fahrenheit 9/11”, não traz muitas novidades sobre a guerra contra o terror ou a invasão do Iraque. Nada que já não tivesse sido levantado nos meios de comunicação minimamente decentes. O grande mérito do filme é documentar muito bem todas essas histórias.
Moore faz questão de dizer que suas opiniões e questionamentos colocados no filme podem até ser contestados, mas não existe erro factual, todos os fatos apresentados foram comprovados. Ao que parece, segundo os relatos do próprio diretor, não falta gente interessada em saber mais sobre tudo isso.
A tempestade de provas provocou um misto de surpresa e indignação em boa parte dos mais de 70 milhões de americanos que assistiram ao filme até agora. Essa reação pode servir para ilustrar o quanto a imprensa local fechou os olhos — os dela e, consequentemente, os do público — para o que estava acontecendo. Mostra também o perigoso grau de credibilidade que os meios de massa desfrutam nos EUA. Afinal, essas informações circulam na internet há algum tempo, bastava ir atrás.
Quem pensa que o filme é uma campanha pró-John Kerry está enganado. Não é. Até porque, quando o candidato Democrata ainda não estava definido, Moore já havia declarado sua preferência por Wes Clark. De uma forma ou de outra, como disse a revista Time em sua reportagem de capa sobre Moore, “Fahrenheit 9/11” é a estréia do cinema agindo diretamente como uma arma política. Dependendo do impacto no resultado das eleições presidenciais, o filme poderá ser tido no futuro como um marco equivalente ao que o debate de Nixon vs Kennedy representou para história da tv.
O filme é extremamente bem feito, seja do ponto de vista político ou cinematográfico. Se suas acusações estão devidamente documentadas, o mesmo cuidado aparece na sua estrutura narrativa. Feito para impressionar, o filme emociona ao mesmo tempo que informa. Equilibrando bem os dois lados da questão, exibe, em detalhes chocantes, os dois lados dos horrores da guerra, tanto o sofrimento americano com os atentados quanto o dos iraquianos, invadidos e humilhados.
Ao contrário do que parecia antes de estreiar, “Fahrenheit 9/11” não corre o risco de perder importância após as eleições. Seu significado é maior que esse, o que garante que ele não deve sumir no tempo.
E é bom não esquecer que, até agora, nenhum dos pilantras atacados no filme (Bush, Rumsfeld, Cheney, Wolfwitz, tô esquecendo alguém?) entrou na justiça com uma ação tipo “calúnia ou difamação”.
——-
Se não viu o filme, vá ver, antes de ler o comentário do Antonio.
E tire suas próprias conclusões.
——-
Acho que o principal objetivo do filme, se cumpre. Não deixar que esse filho da puta, se reeleja. Mas isso vai depender do que vai acontecer até as eleições. Na verdade, do que NÃO acontecer. Se não aparecer um outro bode expiatório, há chances. Vai que ele acha o Bin Laden, aí fudeu.
——-
Achei o filme muito bem feito do ponto de vista político. O cinematográfico deixou um pouco a desejar, acho.
Na minha opinião, dava pra ter feito 3 filmes.1) A fraude na eleição (flórida); 2) As relações comerciais entre as famílias Bush e Bin Laden (e suas consequências no modo como o governo americano conduziu as investigações após o 11 de setembro); e 3) A guerra contra o iraque, suas falsas justificativas e impacto nas sociedades iraquiana e americana.
Por conta disso, acho que certas questões não foram tratadas com muita profundidade — o filme não mostra, por exemplo, que as tais armas de destruição em massa nunca foram encontradas. Enfim, achei meio “corrido”, como se diz na gíria. Mas apesar disso, entendo a escolha de colocar tudo junto: é pra dar uma porrada só, e bem dada, no Bush. Mais eficiente politicamente, com certeza. abs,