quarta-feira

26

janeiro 2005

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Cantando no chuveiro

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Assistir um DJ tocar tal qual um show, ou seja, virado para o palco, é uma das coisas mais monótonas que existem. O visual não muda muito. Quase sempre, o que se vê é um sujeito muito concentrado entre vários discos. Tão concentrado que ele não ouve nem a mesma música que o público, fica com a orelha colada no fone, preocupado com a próxima da fila.

Carisma. Taí uma coisa que poucos artistas da música eletrônica têm. Nego Moçambique tem de sobra. Semana passada, ele mostrou seu novo show no Rio, na Fosfobox. Como era de se esperar, ele continua quilômetros à frente dos outros. A explicação é simples: ao invés de tentar reproduzir a tendência da vez no exterior, com o inevitável atraso que isso acarreta, Nego mistura suas próprias referências, é seu próprio parâmetro. É original, pra resumir em uma palavra.

Suas apresentações não têm toca-discos. Também não têm banda. E não têm fone. O Nego, veja só, ouve a mesma música que a pista. Isso faz diferença. Acompanhado apenas (apenas?) de uma bateria eletrônica e um sampler, Nego vai construindo suas músicas ao vivo, soltando bases pré-gravadas, samples, loopando, adicionando beats e fazendo breaks de acordo com o momento.

Assim, George Clinton desembarca nos anos 2000, o DJ Marlboro viaja para o 3000, Prince empresta umas batidas (“Doves cry”), Dr. Dre dá um alô com seus tecladinhos mafiosos e Barrington Levy avisa, “Here I come!”.

Dançando sem parar, Nego leva a pista pra onde quer. É como assistir alguém cantando no banheiro, de frente pro espelho (nem vem dizer que você não faz isso). Dançando como se ninguém estivesse olhando, Nego Moçambique consegue transmitir perfeitamente o que sente em cada música, a onda exata. Como as músicas são dele, não há ninguém melhor pra fazer isso.

Ao público resta seguir, num raro momento em que faz sentido uma pista inteira ficar olhando pro DJ.

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