segunda-feira

8

janeiro 2007

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Bateristas

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Scracho, Rockz e Curumin
fotos: Joca Vidal

Mantendo a tradição, o Humaitá Pra Peixe 2007 abre o ano novo da música independente e dessa vez com algumas novidades. A principal delas é que, pela primeira vez, o evento conseguiu o horário nobre do Espaço Cultural Sergio Porto e acontece nos finais de semana de janeiro, sempre as sextas, sábado e domingos (antes os shows aconteciam as terças e quartas).

Logo na primeira semana, a mudança foi perceptível na platéia. Sai a trindade amigos-da-banda / integrantes-de-outras-bandas / profissionais-do-meio (técnicos, jornalistas, etc.) e entra, veja só, um público sem muita ligação com a cena independente, indo atrás de um bom show.

Se por um lado a social nos bastidores, tão característica do HPP, perde a força; por outro a bandas tem a chance real de conquistar novos fãs para o seu som. Devido ao horário, no final de tarde, o grande adversário do HPP deve ser mesmo a praia. As próximas semanas do festival vão demonstrar o que, de fato, é melhor para o evento.

No primeiro final de semana, os bateristas se mostraram peça-chave para compreender os três dias de apresentações e seus instrumentos foram o centro das atenções.

Dia 1

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A Filial

Abrindo o evento, na sexta, os cariocas d’A Filial aproveitaram pra fazer em casa o show de lançamento do seu segundo disco, “Quem menos tem é quem mais oferece” (Dubas). Na transposição para o palco, as músicas perdem um dos fatores mais interessantes do disco: os instrumentos, tocados ao vivo na gravação, sem o uso de samples, são substituídos por bases pré-gravadas.

A boa dupla de metais, a percussão, o DJ e, principalmente, o vocalista Edu Lopes, seguram bem a ausência do baixo, bateria e violão presentes na mistura de samba, letras conscientes e hippie-hop do grupo.

Além das músicas próprias — as dançantes “Gosto tanto” e “Dança” estão prontinhas pro rádio — teve também uma versão acapela de “Push it” (Salt-N-Pepa) e a participação de BNegão em “Verso versátil”, repetindo o que é feito no disco.

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Curumin

O baterista paulista Curumin veio em seguida e mostrou um samba-rock repleto de improvisações, efeitos, citações musicais como “Rasta chase” (Mad Professor), “War pigs” (Black Sabbath), “One step forward” (Max Romeo) e versões de “Like a virgin” inna dubwise style, emendada na sua “Vem menina”, e “Feira de acari” (MC Batata) com pegada new wave.

Cantando e tocando bateria, Curumin largou as baquetas para empunhar um cavaquinho elétrico e recebeu BNegão (é, de novo) para juntos tocarem “Funk até o caroço”, do ex-Planet Hemp. Só faltou seu parceiro Tommy Guerrero dar as caras, em pessoa ou apenas musicalmente.

Como tantos outros grupos paulistas, Curumin pesa a mão demais nas referências a Jorge Ben, o que acaba tirando a personalidade de sua música, ainda que seja tudo muito bem feito e, sobretudo, bem tocado.

Na saideira, Curumin recebeu a cantora Anelis Assumpção no palco e se despediu com um enigmático “feliz 2005”.

Dia 2

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Ordinário GC

No sábado foi a vez do Ordinário Groove Trio, célula inicial do Binário, se apresentar como Ordinário Groove Combo. Assim, a formação de guitarra, baixo e bateria ganha um piano e dois MCs, Aori e Iky.

A parte musical é fina e o rap cabe bem ali, ainda que jazz e hip-hop não seja uma mistura exatamente inovadora. Com ótima dicção, algo, por incrível que pareça, raro entre os rappers, Aori é um dos melhores MCs da praça.

O problema é que em vez de intervenções pontuais, os MCs participam o tempo todo, diminuindo o espaço da parte instrumental e descaracterizando o que se conhecia do Trio. Felizmente, houve espaço para esses improvisos sonoros em pelo menos três músicas.

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Rio Maracatu

O Rio Maracatu, banda conhecida das festas universitárias e menos ligada ao circuito independente carioca, fechou a noite com o seu novo projeto, Lapada.

Com a boa vocalista Patrícia Oliveira à frente e fazendo uma mistura meio manjada de MPB com maracatu (e tocar Chico Science não ajuda muito a disfarçar isso), a pressão dos tambores do grupo agradou bastante, mesmo que tenham abusado (ou talvez exatamente por isso) das versões. No total, foram cerca de seis, de Jorge Ben à Gonzaguinha e Lenine.

Dia 3

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Rockz

Domingo foi o dia do rock, começando pelo Rockz. Formada por figuras conhecidas do cenário carioca, a combinação de nomes soa inusitada, ou estranha mesmo, despertando algumas perguntas.

O que leva músicos com bagagens tão diferentes quanto Pedro Garcia (bateria; Cabeça, Planet Hemp), Nobru Pederneiras (guitarra; Cabeça, Lobão), Gabriel Muzak (guitarra; Funk Fuckers, Seletores de Frequência, carreira solo), Diogo Brandão (voz; Benflos) e Daniel Martins (baixo; Benflos) a optarem por fazer esse tal de “novo rock”, tão em voga?

A primeira vista, nada. Exatamente por isso, a banda provoca uma certa desconfiança em quem acompanha os músicos em outros projetos. Seria oportunismo?

Questionamento parecido é despertado pelo mais recente disco de Caetano, “Cê”, que no intuito de fazer rock, juntou-se a alguns dos melhores músicos da cena. A impressão inicial é que assim, contratando os nomes certos, Caetano ficou dispensado de, ele mesmo, pensar a tal sonoridade rock, pondo em dúvida a validade do resultado final.

Assistindo o show do tal disco e fazendo-se o exercício de descolar o grupo da história do Caetano, descobre-se uma boa “novidade”, melhor que boa parte das bandas estreantes que estão aí. Passa-se então a querer saber é se se eles, o grupo contratado, teria conseguido chegar até ali sozinho, sem Caetano. Uma coisa complementa a outra.

Vendo o Rockz ao vivo, realmente empolgados no palco, as dúvidas desaparecem. Primeiro porque, com uma formação dessas, sabia-se de antemão que ruim não seria. Segundo porque, no final das contas, nem soa tão novo rock e/ou oportunista assim, como mero pastiche de Strokes-Franz Ferdinand-Bloc Party-Moptop.

Eles estão ali para fazer, ora, rock, só isso. E rock eles fazem, bem mais pesado do que as ditas matrizes — a referência ao Queens of the Stone Age não é gratuita. O volume altíssimo tornou o show ensurdecedor, mesmo com um som bem passado.

A bateria de Pedro Garcia, perfeita, conduz as quebras e mudanças de direção, enquanto o vocalista exagera na expressão teatral e nas piadas. A música de trabalho “Confesso que errei” foi a que mais empolgou.

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Scracho

Apostando num repeteco da euforia histérica que se viu ano passado no show do Forfun, quando o produtor Bruno Levinson foi obrigado a subir no palco durante a apresentação para pedir calma a platéia, o Scracho foi escalado pra encerrar o primeiro final-de-semana do HPP.

A banda levou muita gente ao Sergio Porto, mas a expectativa não se confirmou. Goste-se ou não, o Scracho conta com um bom público e justifica sua presença no festival, ainda que alguns prefiram não admtir isso.

Seguindo caminho parecido com o de bandas como Dibob e o próprio Forfun, o Scracho aposta na internet e em saraus de colégio como forma de construir uma carreira. Pode dar certo. Acontece que atualmente, cada turma de rua tem a sua própria banda, seus próprios diretores de vídeo, designers e etc, fato que parece restringir a base de fãs aos amigos e chegados.

A idéia era assistir apenas uma ou duas músicas para sacar o clima antes de ir embora. No entanto, a confirmação da promessa feita por Pedro Garcia de ao menos se escutar uma boa baterista, mais a versão punk-pop de “Lua de cristal” (Michael Sullivan, eternizada na voz de Xuxa), logo no começo, mudaram os planos.

Curioso é que a música por pouco sequer fez parte da infância dos integrantes, uma vez que foi lançada em 1990, quando eles tinham, em média, três anos.

Escondida no fundo do palco, a estrela do show (e do Scracho) foi mesmo a baterista Debora Teicher, de 20 anos. Não apenas pelo fato inusitado de ser uma menina tocando hardcore (mesmo aguado), mas porque a ex-integrande da Código de Barras, recém-chegada no Scracho, toca bem a beça.

Apresentada pelo vocalista com a pérola “toca pra caralho e tá solteira”, Debora mostrou versatilidade de ritmos e carregou a banda nas costas.

Pode esquecer o estereótipo da roqueira de preto e All Star. Vestida como uma das muitas fãs que estavam na platéia gritando pelo cantor, Debora faz o tipo menininha. Tocou (e fez vocais de apoio) usando blusa listrada, calça branca, descalça e com uma flor prendendo os longos cabelos, enquanto espacava a bateria sem perder a doçura.

Mesmo com os fãs, a animação e todo o resto, ao Scracho falta maturidade musical. Apesar do repertório do show listar um momento dub e dos dreads do vocalista, o que se ouviu foram covers de Bob Marley e Natiruts, demonstrando a usual falta de referências de reggae, citado como influência pela própria banda.

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Semana que vem tem mais HPP.

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3 Comments

  1. Joca
  2. Reggae

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