Ainda maconha
Written by urbe, Posted in Urbanidades
FHC entrando no clássico Dampkring
Nos últimos dias a cannabis sativa tem estado no centro do noticiário – ao menos online. Na noite de domingo, #maconha chegou ao topo da lista de assuntos mais comentados no Twitter no Brasil.
Mais do que uma reportagem equilibrada sobre o assunto no Fantástico, não pensava que veria uma enquete sobre regulamentação da maconha ter o apoio de 57% dos telespectadores.
Após o baixo astral de dias de acontecimentos estranhos, a Marcha da Liberdade iniciou a virada e essa semana começa bem.
A guerra contra as drogas fracassou. Não há mais dúvidas. Não se engane: os principais beneficiados pela mudança da política de drogas serão os não-usuários, não os “maconheiros”.
Personagem do documentário comentado outro dia, Bill Hicks tem opinião relevante sobre a proibição da maconha:
A MTV fez um programa sobre o assunto. A primeira parte está abaixo e o resto dá pra assistir você sabe onde.
ei bruno, antes de tudo, parabéns pelo urbe, que é um dos meus blogs preferidos que ainda são resistentes nessa época de twitter. não tenho vocação nenhuma pra debates, mas admito que essa insistência na ‘causa da maconha’ me causa certo fastio. bom, acho que numa discussão tão quente é necessário ter alguns bons argumentos e admito que não os tenho. mas sinceramente acho que o país ainda não tem maturidade suficiente para entrar numa discussão parecida. estamos longe de sermos holanda ou, em certo sentido, até mesmo sermos um portugal. o que quero dizer é que acredito existirem outras tantas pautas que seriam muito mais prioritárias para o desenvolvimento social do país. logo, acho que parte da classe média engajada (aka classe média muderna) que levanta a bandeira, deveria usar a força que de fato possui, para, antes de discutir a legalização/ descriminalização de drogas, protestar com a mesma força coisas mais concretas e urgentes (tá lá o norte do país, completamente sem lei, onde se mata a self service, onde não existe infraestrutura, a luta contra a homofobia, a questão do aborto, etc etc, só pra dar uns exemplos. alguém da classe média muderna que seja se dispõe a se mobilizar por uma causa dessas? acho que não). as drogas estão aí mesmo, e ilegais ou não, tenho absoluta certeza que nenhum dos interessados vai ter qualquer dificuldade de consumi-la. argumentar que a ação teria influência na redução das redes de tráfico, bem, aí acho longe demais e não é intenção do post. de toda forma, nunca fui convencido por argumentos dessa natureza. Fico aqui pensando, o cigarro está cada vez mais sendo banido, considerado uma real questão de saúde pública, o álcool, bem mais devastador que o próprio cigarro, continua sendo consumido praticamente sem restrições, causando problemas nos mais diversos âmbitos. qual é a razão de liberar uma outra droga qualquer? pra quê? olha, eu mesmo já trabalhei com redução de danos e sou favor da descriminalização (o usuário, seja recreativo ou não, é antes de tudo cidadão), mas pra quê TANTA mobilização? é o tal egoísmo de classe. a maioria dos que ali estão, não estão pensando em liberdade ou no país, mas antes no conforto de comprar o seu beck na tabacaria. sinceramente, acho que existe muito mais o que se fazer.
oi mauricio, obrigado pela leitura!
nao concordo mto com esse pensamento “isso em detrimento daquilo”. como vc mesmo disse, sao mtas as questoes do pais, todas interligadas e, portanto, tem que ser tocadas ao mesmo tempo. começa com a maconha, a clase média “muderna” aprende que pode participar, as coisas tomam vulto. não é mto diferente do que penso do Queremos, tbm uma pequena escola de participação ativa nas coisas.
A questão da proibição é: “não queremos usar e também não queremos que ninguém use.”
Sempre que alguém se mostra contra (e a reportagem, na pergunta de Sônia Bridi, caiu nesse erro) surgem argumentos fracos, tolos, sem sentido, pois a liberação é a saída mais óbvia.
Vejamos:
– “É uma questão de saúde pública, proibamos a droga.” – Bem, há muitas coisas que matam bem mais, MUITO MAIS que as drogas ilegais e que não são criminalizadas.Gorduras trans, álcool, cigarro etc.Já pensou criminalizar o dono da lanchonete por ele vender substâncias que fazem mal à saúde?Não, né?Ainda bem.
– “Por que as pessoas não se mobilizam para X questão?” – É claro que as pessoas se mobilizarão por questões que lhe afetam mais intimamente, já que (apesar do beatos de plantão) as pessoas têm vontades e aspirações individualizadas.Sejamos kantianos, por favor: o máximo de liberdade possível ao cidadão, desde que sua liberdade não interfira o direito do outro.O direito de quem quer usar maconha não diminui ou cessa o direito de mais ninguém.É como Arnaldo Branco sinalizou: por que vocês não se mobilizam pela educação, saúde etc, e ficam cobrando dos outros?Mexam-se!
Resumindo, a questão da liberalização da maconha toca um ponto mais fundamental de Filosofia do Direito e que se relaciona com: questões de gênero, homoafetivas, de raça, de liberdade individual etc.
Não dá mais pra admitir que tanta gente queira decidir o que vai se dar na esfera privada do outro.Chega!
sou muito fã do teu blog, cara, assim como admiro muito o queremos, acho-o um iniciativa sensacional para a nossa realidade.
acho que o argumento do maurício é um pouco mais original deste velho “x em detrimento y”. e acho que como começo de mobilização de pensamento, a questão da legalização da maconha tem um potencial desprezível dentro da nossa realidade aqui no brasil, principalmente quando colocado em face a outras questões pela qual podemos mobilizar a classe média a fim de criar um clima de “podemos mudar o mundo”. o argumento do maurício é incovenientemente verdadeiro.
bruno cunha e maurício,
respeito suas opiniões, mas devo discordar.
há egoismo de classe envolvido? claro que há. seria hipocrita dizer que muitos (a maioria? a minoria? metade? nao importa) dos que defendem a legalização/descriminalização/regulamentação das drogas o fazem somente pensando em questoes abstratas de filosofia ou beneficios mais praticos de segurança publica.
pero que los hay, los hay.
ninguem discorda hoje de que a criminalidade violenta associada ao trafico de drogas é uma questão gravíssima no brasil. dizer que a legalização das drogas (e aqui estou sendo mais radical: coloco o plural na mesa) não teria impacto na questão da segurança pública é negar uma lei básica de economia — o tráfico tem o monopólio de um negócio altamente lucrativo, ora. tire seu monopolio e sua receita cairá. drasticamente. o que significa menos grana pra investir em ar-15. veja: hoje, o tão falado “exercito do trafico” é um bando de moleques que não aguentam 10 minutos de confronto com a policia normal. (com o bope não tem confronto: a bandidagem corre mais do que velocista em olimpíadas). agora imagine essa molecada sem ar-15… claro, muitos dos moleques do trafico nao vão querer simplesmente abrir mão do salario polpudo, trocando-o pelo vencimento mínimo de porteiro, vigia etc. isso vai gerar, num primeiro momento, uma onda de assaltos, roubos etc. sim, antes de melhorar, vai piorar. mas no medio prazo, a coisa muda de figura: a policia vai atras de ladroes isolados, ao inves de travar uma disputa territorial contra gangues inteiras armadas até os dentes.
e as pessoas que moram nas favelas? nao acham que gostariam de se verem livres do jugo do trafico? ou vcs acham que o estado vai ter grana para implementar upp nas favelas de todo o brasil? claro, seria ingenuo achar que nao teria trafico em lugar nenhum. mas ha uma distancia enorme entre haver, aqui e ali, um traficante meia boca, e faccoes inteiras dominando territorios vastos e populosos.
mas há outro benefício — este, de longuíssimo prazo, o que torna sua vizualização mais complicada — que é preciso salientar. sabemos que nao há educação melhor do que aquela que alia responsabilidade e liberdade. um dia, quando os historiadores olharem para trás (daqui a, digamos, 300 anos, se a terra não tiver ido pro vinagre) talvez digam que o movimento pela legalização das drogas foi um dos passos mais importantes na realização daquele que é, desde o iluminismo, um ideal a ser perseguido: o de uma sociedade feita por individuos esclarecidos, senhores de si.
saudações,
ps – ah sim: coisas positivas podem surgir da interesses particulares nem sempre virtuosos. claro que as empresas, a maioria delas, estão cagando pro meio ambiente. mas estão adotando praticas sustentaveis porque “pega bem”, pq constroi imagem junto ao consumidor. ou seja: estão fazendo um bem para a sociedade, ainda que por motivações não exatamente nobres.
Quantos Brunos nos comentários, haha! Os meus comentários estão assinados Bruno Natal, só pra não confundir.
oi, bruno, primeiro tb vou te parabenizar, sempre visito o seu blog, mas acho q nunca comentei aqui.
tb não concordo com esse raciocínio de que a defesa da maconha exclui a luta por outras causas que seriam mais importantes.
pelo contrário, acho que essa mobilização pode mostrar para as pessoas (principalmente pros jovens) o seu poder de transformação e levar essa força pra outras causas. quem esteve na marcha da liberdade aqui em sp pode perceber isso, em todo canto se viam faixas e cartazes sobre os mais diferentes temas: liberdade de expressão, código florestal, ciclovias, discriminação racial, direitos GLBT, transporte público, aborto…
vou colocar mais um bruno na roda, o torturra e citar um trecho de um txt que ele escreveu sobre marcha da maconha de são paulo (http://torturra.wordpress.com/2011/05/22/nao-somos-conduzidos-conduzimos/):
“Não, essa briga não é pela maconha. Assim como a luta por direitos LGBT, das mulheres, dos negros… nada disso é apologia de raça, sexo ou formas de amor. São gritos por tolerância, respeito, igualdade de direitos. E uma luta da consciência por mais consciência. E pela transformação dela em grupo, em rede, em sociedade.”
acho que é bem por aí, e só através do debate, da informação, da educação, vamos poder gerar essa consciência, diminuir a hipocrisia e chegar nessa maturidade que o maurício citou. no meu otimismo acredito que essa luta esta só começando, estamos dando pequenos passos, mas no caminho certo.
abç
ei bruno, tudo bem? bom, talvez ninguém mais olhe isso, mas hj li um texto interessante do césar maia (ok, foi um péssimo prefeito e é um proselitista de marca maior, mas escreve, por vezes, coisas sim interessantes). segue o texto do ex blog dele de hj (5/7):
“MACONHA: E COMO SERIA O MERCADO?
Coluna de sábado (02), de Cesar Maia, na Folha de SP.
1. Volta ao pregão brasileiro a legalização da maconha. Já não se trata da descriminalização do uso em pequenas quantidades, mas de excluir essa “droga leve” do rol dos delitos. Seria a mágica criação de um mercado, com demanda, mas sem oferta. Alguns avançam e sugerem plantar maconha familiar. São feitos vídeos com personalidades defendendo a legalização. As marchas são liberadas. Enquanto isso, na Holanda, onde o consumo em locais determinados é permitido, desde que com apresentação de carteirinha, o caminho é o inverso. A legislação está sendo revista. Reduzem-se as quantidades criminalizáveis. Proíbe-se o turista de comprar. E se inicia um processo de definição de maconha de alta intensidade tóxica, para proibi-la.
2. No Brasil, é tal espécie a que mais atrai. O “polígono da maconha”, no Nordeste, é para festinhas. O que importa mesmo é a paraguaia, de maior intensidade, tipo “skank”, com concentração de quase 20% em comparação aos 2,5% da maconha corrente. Os locais de venda em Amsterdã têm uma variedade de tipos, intensidade de THC, para o deleite dos consumidores. Enquanto isso, as pesquisas nacionais e regionais disponíveis mostram que de 80% a 90% das pessoas são contra a legalização da maconha, e que este número é menor entre as pessoas de maior renda, em bairros de classe média.
3. Nas favelas, a porcentagem de rejeição à legalização é a mais alta, superando os 90%. Bem, legalizar o consumo não é tarefa difícil. Mas basta uma lei. Contudo que não se arrisquem seus defensores a um plebiscito, pois tal caminho será intransponível. Seria bom perguntar aos defensores da legalização como se faz com a oferta. Afinal, demanda sem oferta seria mais uma extravagância brasileira. Se é para legalizar, então legalize-se tudo, respondem alguns. Pelas leis de mercado, com um produto tão atrativo para setores de renda mais alta, vai valer a pena parar de produzir arroz e feijão e trocar por maconha. O incentivo às hortas comunitárias incluiria a maconha? E a publicidade? Como a maconha paraguaia é mais atrativa, a de uso corrente deixaria de ser plantada a favor do tipo “skank”.
4. Diria Antonieta: se não têm pão, plantem maconha. Os pontos de venda seriam liberados? Quiosques em praias, supermercados, lojas especializadas, ambulantes, “MacConha”? E as Igrejas, o que pensam? Haveria locais restritos para consumo, como na Holanda? Com carteirinha e marca de segurança, para não ser falsificada? O Paraguai, para não perder divisas, legalizaria também? E a Lei Seca seria adaptada? Como tributar? Após os vídeos, aguardemos o texto da longa lei, seu debate público, emendas, tramitação nas comissões, na Câmara e no Senado. Um curioso uso do tempo nacional.”
—-
Abraços
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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