terça-feira

10

agosto 2004

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A instigação do Mr. Niterói

Written by , Posted in Música, Resenhas

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Quem já ouviu Gustavo Black Alien conversando sabe que o rapper não sossega nem quando está de papo. Dedicado à sua arte 100% do tempo, ele rima até quando fala sobre seu dia. Com a cabeça trabalhando nesse ritmo, nada mais natural que Black Alien lançasse um álbum solo.

No entanto, apesar de muito aguardado, esse disco demorou quase dez anos pra nascer. Depois de passar pelo Planet Hemp, de diversas participações em trabalhos dos outros (Raimundos, Herbert Vianna, Marcelinho da Lua, Sabotage), da parceria com Speed, do Reggae B, das canjas em shows de sabe-se lá quantos artistas e sempre cercado de gente, Black Alien finalmente aparece sozinho em “Babylon by Gus Vol. 1 – O ano do macaco”.

Para marcar a estréia solo, no disco não há outra voz além da de Gustavo. Isso não o torna de maneira nenhuma monótono. As muitas facetas de Black Alien — MC, raggaman, cantor — são mais do que suficientes pra dar conta do recado.

Convidados, só na parte musical, e ainda assim em poucas faixas. Rhossi (programação), o paralama Bi Ribeiro e Pupilo da Nação Zumbi participam em “América 21”, o trombonista Bidu Cordeiro em “From Hell do Céu” e o guitarrista Rafael Crespo (Planet Hemp) toca em “U-Informe”.

Produzido por Alexandre Basa (Instituto, Mamelo Sound System), “Babylon by Gus…” é um disco à altura das expectativas em torno do seu lançamento. Cada música tem personalidade própria, sem nunca perder o senso de unidade com o resto das faixas. As muitas influências — escancaradas na lista de agradecimentos repleta de nomes como Eek-A-Mouse, Roots Manuva, Sizzla ou Gangstarr — transparecem na produção.

Um nome que não está nessa lista, mas bem poderia estar, é o de DJ Shadow; o timbre oriental de “Mr. Niterói” não deixa mentir. O funk carioca e o dancehall dão as caras na letra cheia de sacanagem e na batida de “Perícia da delícia” e o piano à italiana da faixa-título entrega a paixão de Black Alien pelos filmes “Scarface” e o “Selvagem da motocicleta”. A matadora “Caminhos do destino”, melhor do disco, é tão boa que, dizem, só não foi a primeira música de trabalho porque seria uma escolha óbvia demais.

Não deixe os refrões ganchudos te distraírem, as letras e mensagens contudentes merecem igual atenção. Em “U-Informe”, par-perfeito para “Tribunal de rua” do Rappa, Black Alien descreve uma dura policial tão torta quanto são, lamentavelmente, corriqueiras.

Segundo o calendário chinês, 2004 é o ano do macaco, ano de sorte para os doidões e para as mentes criativas. Se o Vol. 1 do título for mesmo um indicativo de quem vem mais discos pela frente e os próximos mantiverem o nível desse, todo ano vai ser o ano do macaco.

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  1. cassio-black-alien

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