A geração do meio
Written by urbe, Posted in Uncategorized
O horizonte é digital e, por agora, essa é a única certeza
foto: _ares_
Espremidos entre duas eras — a passada e a que se desenha — os que hoje têm aproximadamente entre 20 e 30 anos são os que mais sofrem com a transição do formato analógico para o digital. Tateando o mundo novo, a geração do meio paga o preço de viver num tempo de inovações, correndo o risco de ser resumida a um elo entre duas épocas prósperas.
O leque é amplo, mas provavelmente afeta mais aqueles que trabalham na área de cultura/informação/tecnologia. Não à toa, o embate analógico vs digital ocupa tanto espaço no imaginário desses indivíduos .
Os que trabalharam na indústria fonográfica até um pouco além da metade dos anos 90, sentiram na pele (e ainda sentem) o baque dessas transformações. Nos nem tão distantes tempos pré-digitalização, disco era um negócio que dava dinheiro. Muito. Com as mudanças impostas pela novas mídias esse mercado encolheu e hoje definha.
Uma coisa, porém, é um fato: bastante gente acima dos 40, de artistas a executivos e lojistas, costurou seu pé de meia nos tempos de fartura. Não se trata de uma “crise” de formatos. O que se atravessa é uma crise de continuidade, de perpetuação, da insistência por um modelo com o qual se está acostumados.
O futuro é digital, não adianta espernear. O que começou com os discos, hoje atinge a indústria do cinema, os grandes jornais, os produtores de software, enfim, se alastrou. Não há dúvida de que, em termos objetivos, essas mudanças são para o melhor.
Mais pessoas tendo condições de produzir e distribuir seu trabalho é bom para quem cria. A facilidade de acesso a esses trabalhos é bom para quem consome. O encontro dessas duas pontas, faz com que o trabalho chegue a um púbico maior, sem (ou com menos) intermediários, o que é bom para ambos.
Muito do que é distribuído online voluntariamente por seus criadores tem em vista os chamados ganhos laterais. Espera-se que com a exposição surjam outras oportunidades. Para os músicos pode ser mais shows; para os jornalistas, convites para escrever em grandes publicações; para os cineastas, novos trabalhos; e assim segue.
Hoje há quem resista aos torrents, esmurrando a ponta da faca e tentando impedir a troca de arquivos. Isso não vai acontecer. O que ocorrerá, muito em breve, é justo o contrário.
Tanto os grandes conglomerados de mídia, quanto os independentes brigarão por um lugar nesses espaços, simplesmente porque é ali que as pessoas estão indo buscar entretenimento. Será difícil se destacar. Estar presente no catálogo de um ripador de filmes (o sujeito que digitaliza e disponibiliza o filme on line) como o aXXo, um dos mais respeitados e seguidos no meio (segundo me disse o Mateus), será indispensável.
A grande falha desse sistema é que ele ainda não se definiu como um formato de negócios. Se no futuro o ripador puder até vir a ser pago pelos estúdios para hospedar e distribuir seus filmes e o público tiver livre acesso ao conteúdo (o que, de fato, já tem), quem paga a conta? Porque o filme (ou o disco, o livro, fotografia, etc) continuará tendo custos para ser produzido, isso não muda.
Para estúdio de Hollywood, com dinheiro em caixa, esse modelo até pode ser viável num primeiro momento. Para os independentes, nem tanto, visto que o investimento para entrar no mercado é muito alto e nem sempre os ganhos laterais são palpáveis. Um filme, por exemplo, não tem a opção de se apresentar ao vivo.
Sendo assim, corre-se o risco de se replicar as falhas do modelo anterior, onde só quem tinha recursos financeiros próprios (ou acesso a eles) podia produzir. Seria um retrocesso. Outras opção seria essas atividades culturais tornarem-se hobbies, um tanto incerto se isso seria algo positivo ou negativo.
As primeiras respostas para essas questões normalmente passam pela publicidade, anúncios e patrocínios. É um pensamento imediatista, que faz sentido num primeiro momento. Porém, torna toda a cadeia dependente de uma única fonte de recursos, que logicamente é limitado.
O ideal, claro, seria que os consumidores pagassem diretamente aos criadores, mas isso não parece realista. Mesmo porque, devido a facilidade de acesso, por menor que fosse a quantia a ser paga, a quantidade de produtos que se consome aumentou muito, tornando inviável equilibrar essa conta. Seria ingênuo imaginar que o consumidor estará disposto a aumentar os seus gastos ou que consumirá menos para se adequar.
A solução chegará, é inevitável. O problema é para quem vive entre esses dois momentos, o passado e o futuro. São pessoas que não usufruíram dos benefícios do velho modelo e que agora esperam resistir até um novo formato de negócio se estabelecer.
É a geração do meio, a generation in between pra internacionalizar, cujo símbolo bem poderia ser o CD, uma mídia transitória, que provocou modificações tão grandes, incluindo a digitalização que terminou por decretar seu próprio fim. É uma ambiguidade sem tamanho viver numa época de tantas mudanças positivas, onde coisas antes inimagináveis hoje são possíveis e, ainda assim, não enxergar perspectivas concretas.
Enquanto as resposta não vem, batuco textos nesse saite, produzo filmes de maneira independente. É tudo uma enorme aposta, onde os ganhos podem ser tão grandes quanto o prejuízo. Dedos cruzados.
“Pra q tanta perna se ele voa?”
Sou da “geracao in between” e acho isso um bem incomparavel. Qdo as ideias do digital se esgotarem, de onde vc acha q vao surgir as “novas ideias”? Aposto q vao vir de uma galera q vai comecar a sugerir solucoes assim “lembra no tempo em q era assim”?
Acho otimo esse pseudo-desespero em relacao ao futuro digital. Soh assim talvez as coisas mudem MESMO. Obama nao foi eleito por outro motivo senao por sua mobilizacao online. Pode falar da retorica, do anti-Bushismo, etc. Mas foi na web q ele se firmou.
Dois detalhes: “elo de ligacao” eh pleunasmo e software sempre foi digital (a midia em q o software vinha eh q nao era).
E sobre o axxo:
http://www.belfasttelegraph.co.uk/lifestyle/technology-gadgets/internets-most-prolific-pirate-axxo-is-everywhere-and-nowhere-14180849.html
e
http://torrentfreak.com/axxo-issues-anti-piracy-warning-090210/
Não entendi sua colocação do primeiro parágrafo, Matias, principalmente a segunda pergunta.
Acho ótimo as mudanças digitais. Ser parte da geração que possivelmente vai tomar na cabeça não me anima muito não.
sobre software – sempre foi digital, lógico. Só que antes não eram pirateados na velocidade que são hoje, isso que quis dizer com estarem sendo atingidos também.
elo de ligação – pra vc ver o que anos ouvindo narrações de jogo não fazem com uma pessoa…
Abs,
o texto eh bom a reflexão eh longa alguns itens:
1) distribuição – Prince resolveu distribuir seu cd (mas poderia ter sido um pen-drive) na edição de domingo de um jornal. O Coldplay resolveu “dar” seu cd a quem for assistir seu show. O radiohead atingiu um status que o permitiu testar a distribuioção “gratuita” e com produto “colecionador”. O SMD estah aih tentando baixar custos, numa era jah pen-drive-mp3player.
2) velocidade de produção – velocidade de consumo
3) o produto e o público
continua mais tarde … :-))
Muitas solucoes que vao surgir pro futuro vao ser baseadas na falta de recurso que tinhamos/temos, nos da geracao nascida nos anos 70.
Pensando aqui, nao sei se a gente eh a primeira geracao “do futuro? , saca? Acho q a primeira vez q falam em “futuro das nossas criancas” ou “futuro da humanidade” eh nos anos 60/70. A gente nasceu esperando esse futuro, se contentando com migalhas pq achava q um dia tudo ia mudar. Tudo mudou e agora a gente esta perdido. Qdo os modelos se esgotarem, vao perguntar pra gente o q devemos fazer. Qdo tivermos 40
anos…
Eles querem exatamente isso, replicar o modelo anterior.
Não dá a ideia…
você não acha que esse leque “de 20 a 30 anos” é muito amplo? Eu tenho 21 anos, por exemplo, uso computadores desde 95, quando tinha 7 anos, e Internet desde o começo de 98, ainda com 10, então apesar de não ser necessariamente da geração digital, e sim de uma geração anterior a essa, posso ser considerado um nativo digital. As pessoas com idade mais próxima dos 30 encontraram essas tecnologias já na adolescência, então talvez seja mais fácil encontrar pessoas da “geração do meio” entre essas. Me formei em jornalismo no fim de 2008 e tenho um grupo de amigos que já se formaram ou estão para se formaram, todos entre 20 e 24 anos, que não tem crise nenhuma em relação ao analógico, ou vontade de insistir em meios tradicionais de mídia, e sim completa noção da importância do digital. Claro que não é a maior parte das pessoas da minha idade que pensam assim. Enfim, só para registrar.
Pra vc ver como são as coisas, Renan, tiveram dois amigos na faixa dos 40 mandando e-mail pra falar que o escopo deveria ser mais amplo!
Não é questão de aceitar e se adaptar ou não o futuro digital (até porque, isso é inevitável). A grande questão é que as pessoas nessa faixa de idade (vc incluído) estão vivendo uma fase em que não há um modelo de negócio estabelecido para esse formato.
Ele surgirá, é questão de tempo, mas ainda não veio.
Abs,
No future, no future :-)))
Algumas coisas mudaram, mas não tudo, o processo eh lento diriam alguns.
A velocidade de produção – acesso – consumo mudou, velocidade e politica diria Virilio. A conquista da abundância diria Feyerabend. Mais gente fazendo música, cinema e mais festivais.
A cauda longa estah aih , e o pessoal ainda pensando na inflação publicidade-tv-superhits, a bolsa jah caiu na real, mas parece que falta “o real cair na real”. O virtual estah cada vez mais real.
Existem com certeza modelos de negócio, desconfio que eles caminham com a segmentação o que pode ser péssimo em certos aspectos ou não, a pesquisar, a pesquisar …
to com o matias, dou gracas a deus de ter nascido nessa epoca. e apesar de ser cliche acredito que “o futuro eh a gente que faz”. a 2 anos atras um post do urbe nao era citado como fonte em um jornalzao. a 3 anos atras uma mega banda nao colocaria seu disco para pagarem o que quisessem. ate a merda do fantastico ta enchendo o programa de imagens de internet e implorando a participacao do “internauta”. ou seja ta mudando ate mais rapido do que eu esperava. outro dia tava no alto de um predio em sao paulo com o buguinha vendo aquele monte de carros, predios, helicopteros, etc e ele disse: ” cara, isso ja eh aquele futuro dos jetsons, so nao tem aquele layout que a gente ficava imaginando, mas ja eh o “futuro”. acho que quem produz ideias e nao ta afim de se enquadrar nos formatoes tem que arcar com isso tb, tem que ter essa clareza. vc se formou em jornalismo e ja tem o primeiro doc. lancado pelo soul jazz records no mundo todo, ahahahaha, ta achando ruim? pensa vc, jornalista formado, lancando o primeiro doc a 10 anos atras.
bora bruninho, sebo nas canelas!
Hahaha! Minha canela tá ensebada até o joelho já!
E não estou achando ruim, de jeito nenhum. Estou apenas constatando que estamos presos entre dois tempos, o que foi e o que será, e estou ansioso para o que vem chegar logo.
O “Dub Echoes” eu fiz totalmente independente (pagando por tudo) e a história do filme mostra que valeu a pena. Só que a conta não bate. Infelizmente isso atrasa muito as coisas, por isso o filme está saindo só agora, cinco anos depois de ter sido iniciado.
Os outros docs que fiz (Chico, Vanessa, Jota, Bethânia, Deodato) todos saíram pagos, como projetos, e por esse motivo foram concluídos em questão de meses.
Agora, eu falo pra mim que nunca mais embarco numa canoa independente dessas, mas já estou botando um novo doc pra andar, sem nenhum financiamento por trás. Here we go again.
Abs,
mas eh isso. tem uns trampos encomendados, onde vc faz um capital. e outros que vc “levanta”, porque tem necessidade existencial de fazer. a conta nao fechou mas vc ta fazendo outro.ou seja viva o digital. caso contrario seria tao mais caro que vc nem lavantava.
Eu entendo bem o que foi dito, pois sofri e sofro na pele essa situação. Tenho 33 anos e me formei em 1998 em Publicidade e Propaganda pela melhor universidade da área no Brasil na época, a Metodista, e pra vocês terem idéia do que eu estou falando, raramente usávamos o laboratório de informática, onde existiam uns oito micros capengas com uma internet pior, para uma classe de 60 alunos.
Tudo o que aprendi na adolescência e no início da fase adulta sobre trabalho e modelos de negócios foi por água abaixo, a transforma foi brutal, deixando eu e mais uma multidão de recém formados sem saber o que fazer e como fazer. Mas são das adversidades que surgem as oportunidades, dessa forma muitos com criatividade, dinheiro e um pouco de sorte se deram muito bem, mas normalmente esses eram os que o pai pagava a faculdade e não tinha que trabalhar pra se sustentar, dai o reflexo da maioria dos conteúdos existentes hoje na internet, e o ponto onde queria chegar, apesar de mudança da forma como as coisas são feitas, a mesma elite continua formando opinião e na maioria das vezes visando às mesmas coisas.
Precisamos ter uma visão um pouco mais ampla sobre alguns assuntos, pois mesmo em São Paulo, existe uma camada da sociedade que ainda não foi incluída no mundo digital (no Brasil existe uma camada que não foi incluída nem no mundo analógico), e com certeza os novos modelos de negócios irão afetar essas pessoas num futuro recente. Então o debate que acredito ser o mais relevante é como podemos criar a partir dessa oportunidade de transformação que temos, maneiras mais eficazes de trabalharmos e ao mesmo tempo distribuirmos melhor o capital e o que é mais importante, a informação. Acredito que o futuro é não existir modelos pré estabelecidos como antigamente, mas sim cada região, cada comunidade em comunhão com o restante do mundo através das novas maneiras de informação e tecnologia escolher pra si o que melhor atende suas necessidades e assim quebrarmos verdadeiramente alguns paradigmas e barreiras que existem a anos e anos.
Achei o texto muito legal Bruninho.
Eu sou daqueles que acha que a volta de um certo amadorismo é boa. Que é bom as coisas voltarem a ser feitas com mais paixão, de maneira mais pessoal, mais pela vontade de fazer que por vislumbrar um possível ganho (dinheiro, carreira) mais adiante.
Mas como se faz um filme sem dinheiro? Como se faz a cobertura de uma guerra ou de uma Copa sem dinheiro? Como jornais e produtoras sobrevivem se ninguém vai pagar? Será que vão estatizar tudo ou todos os filmes vão ter que ter merchandising? Os mecenas vão resurgir? E ainda mais agora que os rios de dinheiro secaram.
Dá uma certa agonia, sim, ter que esperar alguns modelos morrerem p ver surgirem os novos. As coisas estão mudando rápido, mas alguns hiatos são mais complicados. Como vc pavimenta um caminho novo, se não sabe p onde ele vai? Tentativa e erro?
Antes de surgir o avião, a crença geral era de que o transporte aéreo ia ser feito por balões dirigíveis. O Santos Dumont investiu anos em dirigíveis p/ só depois mudar o foco para os aeroplanos. E de uma maneira torta, isso funcionou. Um conhecimento acabou levando ao outro.
O jeito é acelerar, mesmo sem saber p/ onde, só com a confiança de que nada importa mais, que a informação correr livre. Não é?
É confuso, mas também acho a oportunidade um privilégio
dali fish! arrenbentou nos comentarios!
O ponto é bom, vivemos numa época onde um modelo de trabalho vai pro espaço enquanto outro ainda mal está de se desenhando. E agora José? Se se segurar no barco vc afunda, mas adianta sair dando braçada por aí sem ter idéia da direção?
Dando uma de futurólogo em diria q apesar do modelo ainda nao estar definido já tem aresta pra caceta aparecendo pra se ter uma idéia do q vem pela frente. O básico? Distribição total, irrestrita e gratuita de tudo q for conteúdo (música, filme, livro, software, etc). Não tem volta, quem quiser baixa e pronto.
Agora, como se ganha dinheiro com isso é outra questao, e até agora eu só imagino uma solução: serviços.
Quando digo serviços digo pagar por algo pra ter uma experiencia melhor em relação ao mesmo conteúdo, por exemplo ir num cinema em vez de assistir na TV, ou ir a um show em vez de baixar o album.
Mas vou te falar q tô plenamente satisfeito de poder acompanhar isso tudo de perto. E com licença q o Lost acabou de baixar no torrent. Juro q eu até tentei assistir no site da ABC, mas ainda nao tá disponivel, quem sabe na temporada q vem eles já fazem uma trasmissao simultanea.
Meu maior receio é tentarem adaptar o modelão financeiro “do real” “no virtual”, e essa medida vir de cima. Ou seja, a abertura toda que temos hj ser fechada pelos que têm grana e ditarão lá no real e aqui no virtual como é q se lucra. Acho que tem muita gente só esperando alguma solução aparecer (quero dizer q falta criatividade, nesse quesito, pros “independentes” do lado virtual), enquanto “os caras” (é, o sistemão) estão testando medidas pra grana circular por essas vias até o bolso deles. Estão falhando, sempre. Porém, um dia acertam e aí a abertura se fecha. Medo disso rolar e lá na frente a gente falar um pro outro “caralho, a gente devia ter pensado antes deles”. Mal ae o dualismo “eles” “nós” em excesso, bem como as aspas, rs.
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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