terça-feira

3

março 2009

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A geração do meio

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O horizonte é digital e, por agora, essa é a única certeza
foto: _ares_

Espremidos entre duas eras — a passada e a que se desenha — os que hoje têm aproximadamente entre 20 e 30 anos são os que mais sofrem com a transição do formato analógico para o digital. Tateando o mundo novo, a geração do meio paga o preço de viver num tempo de inovações, correndo o risco de ser resumida a um elo entre duas épocas prósperas.

O leque é amplo, mas provavelmente afeta mais aqueles que trabalham na área de cultura/informação/tecnologia. Não à toa, o embate analógico vs digital ocupa tanto espaço no imaginário desses indivíduos .

Os que trabalharam na indústria fonográfica até um pouco além da metade dos anos 90, sentiram na pele (e ainda sentem) o baque dessas transformações. Nos nem tão distantes tempos pré-digitalização, disco era um negócio que dava dinheiro. Muito. Com as mudanças impostas pela novas mídias esse mercado encolheu e hoje definha.

Uma coisa, porém, é um fato: bastante gente acima dos 40, de artistas a executivos e lojistas, costurou seu pé de meia nos tempos de fartura. Não se trata de uma “crise” de formatos. O que se atravessa é uma crise de continuidade, de perpetuação, da insistência por um modelo com o qual se está acostumados.

O futuro é digital, não adianta espernear. O que começou com os discos, hoje atinge a indústria do cinema, os grandes jornais, os produtores de software, enfim, se alastrou. Não há dúvida de que, em termos objetivos, essas mudanças são para o melhor.

Mais pessoas tendo condições de produzir e distribuir seu trabalho é bom para quem cria. A facilidade de acesso a esses trabalhos é bom para quem consome. O encontro dessas duas pontas, faz com que o trabalho chegue a um púbico maior, sem (ou com menos) intermediários, o que é bom para ambos.

Muito do que é distribuído online voluntariamente por seus criadores tem em vista os chamados ganhos laterais. Espera-se que com a exposição surjam outras oportunidades. Para os músicos pode ser mais shows; para os jornalistas, convites para escrever em grandes publicações; para os cineastas, novos trabalhos; e assim segue.

Hoje há quem resista aos torrents, esmurrando a ponta da faca e tentando impedir a troca de arquivos. Isso não vai acontecer. O que ocorrerá, muito em breve, é justo o contrário.

Tanto os grandes conglomerados de mídia, quanto os independentes brigarão por um lugar nesses espaços, simplesmente porque é ali que as pessoas estão indo buscar entretenimento. Será difícil se destacar. Estar presente no catálogo de um ripador de filmes (o sujeito que digitaliza e disponibiliza o filme on line) como o aXXo, um dos mais respeitados e seguidos no meio (segundo me disse o Mateus), será indispensável.

A grande falha desse sistema é que ele ainda não se definiu como um formato de negócios. Se no futuro o ripador puder até vir a ser pago pelos estúdios para hospedar e distribuir seus filmes e o público tiver livre acesso ao conteúdo (o que, de fato, já tem), quem paga a conta? Porque o filme (ou o disco, o livro, fotografia, etc) continuará tendo custos para ser produzido, isso não muda.

Para estúdio de Hollywood, com dinheiro em caixa, esse modelo até pode ser viável num primeiro momento. Para os independentes, nem tanto, visto que o investimento para entrar no mercado é muito alto e nem sempre os ganhos laterais são palpáveis. Um filme, por exemplo, não tem a opção de se apresentar ao vivo.

Sendo assim, corre-se o risco de se replicar as falhas do modelo anterior, onde só quem tinha recursos financeiros próprios (ou acesso a eles) podia produzir. Seria um retrocesso. Outras opção seria essas atividades culturais tornarem-se hobbies, um tanto incerto se isso seria algo positivo ou negativo.

As primeiras respostas para essas questões normalmente passam pela publicidade, anúncios e patrocínios. É um pensamento imediatista, que faz sentido num primeiro momento. Porém, torna toda a cadeia dependente de uma única fonte de recursos, que logicamente é limitado.

O ideal, claro, seria que os consumidores pagassem diretamente aos criadores, mas isso não parece realista. Mesmo porque, devido a facilidade de acesso, por menor que fosse a quantia a ser paga, a quantidade de produtos que se consome aumentou muito, tornando inviável equilibrar essa conta. Seria ingênuo imaginar que o consumidor estará disposto a aumentar os seus gastos ou que consumirá menos para se adequar.

A solução chegará, é inevitável. O problema é para quem vive entre esses dois momentos, o passado e o futuro. São pessoas que não usufruíram dos benefícios do velho modelo e que agora esperam resistir até um novo formato de negócio se estabelecer.

É a geração do meio, a generation in between pra internacionalizar, cujo símbolo bem poderia ser o CD, uma mídia transitória, que provocou modificações tão grandes, incluindo a digitalização que terminou por decretar seu próprio fim. É uma ambiguidade sem tamanho viver numa época de tantas mudanças positivas, onde coisas antes inimagináveis hoje são possíveis e, ainda assim, não enxergar perspectivas concretas.

Enquanto as resposta não vem, batuco textos nesse saite, produzo filmes de maneira independente. É tudo uma enorme aposta, onde os ganhos podem ser tão grandes quanto o prejuízo. Dedos cruzados.

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  1. Bruno Natal
  2. duda
  3. Bruno Natal
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  6. Bruno Natal
  7. Alexandre Fischgold
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