segunda-feira

16

abril 2007

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A demora e a espera

Written by , Posted in Resenhas


Lee Perry abençoa os cariocas

Parte 1, o show

Traumatizados com o bolo de cinco anos atrás, quando cancelou sua participação no show com Mad Professor & The Robotiks (que tocaram mesmo assim), muita gente desconfiava se Lee Perry realmente tocaria no Brasil

Dessa vez, foi. Finalmente, “Scratch” pisou por aqui e a apresentação, como era de se esperar, entrou para galeria de melhores dessa cidade.

Perry estava acompanhado de uma banda competente, ainda que resvalando num reggae pop demais em alguns poucos momentos, apresentada como uma reencarnação do Upsetters (com um ex-Robotik na bateria, Sinclair) — e não pelo White Belly Rats, como dito anteriormente — Lee Perry operou sua “blackumba” no Circo Voador.

Recebido aos berros pelo numeroso público, que não chegou a lotar a casa, Perry subiu ao palco com um chapéu de bruxo. Vestindo uma roupa militar, boné (ambos repletos de medalhas coladas e símbolos costurados) e vários colares, abençou a platéia com sua garrafa d’água.

O show começou com “Jungle safari” e terminou com a dobradinha “War ina Babylon/”Open door”. Entre essas duas, “Curly locks”, “I wish it would rain” (The Temptations) e “Roast fish, collie weed & corn bread”.

Apesar do excelente som que se ouviu no Circo (por conta da astúcia na mesa de um ex-integrante do Revolutionary Dub Warriors), especialmente a partir da terceira música, “I’m a good man” (“I’m a mad man” rebatizada), importava mais estar na presença de Lee Perry, o mago do dub, do que qualquer outra coisa.

Muito mais produtor do que artista propriamente dito, foi controlando uma mesa de som que Perry escreveu seu nome como um gênio da música. Talvez por isso, era justamente nos intervalos entre as canções que ele mais brilhava.

Com a voz metálica, repetiu diversos “I love you”, enquanto enxugava o suor do rosto com a toalha preta e fazia discursos pouco intelegíveis, seja pelo pesado sotaque jamaicano, seja pelo conteúdo pouco linear.

Perry citou cristais como uma prova cabal de que Jesus Cristo era negro, pediu menos violência no Brasil e contou que não tem dreadlocks na cabeça, mas sim “no pau” (nessas palavras). A platéia, extasiada, esticava os braços para tocar as mãos e os muitos anéis do Jamaicano. Uma mulher entregou uma rosa branca, que Perry segurou durante boa parte do show.

Um encontro mágico e a certeza de ter presenciado um pedaço da história.

Parte 2, a entrevista

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Dois anos, supostamente, é tempo a beça para se terminar um filme. Acontece que, para se concluir um documentário, é preciso primeiro terminar a fase de captação de imagens e entrevistas. E um documentário sobre dub sem Lee Perry é, numa visão otimista, metade do que poderia ser.

A saga da produção do “Dub Echoes”, para contar como o dub influenciou o surgimento do hip hop e da música eletrônica, começou há mais de dois anos. Atravessou oceanos, foi à Jamaica, EUA e Inglaterra, sem nunca encontrar Lee Perry.

Nesse último final de semana, a passagem desse nome fundamental na história do dub e do reggae pelo Brasil, transformou dois anos de demora, de problemas com cronograma e de todas atolações inerentes a um projeto independente, em dois anos de espera.

Dois anos depois de começar, Lee Perry, o primeiro nome da lista, concedeu a entrevista que faltava para o documentário!

Não foi fácil. Após dois meses de trocas de e-mail com o empresário (contato feito com a ajuda de Paulo André), ficou acertado que Lee Perry decidiria se participaria ou não apenas quando chegasse ao Brasil. Chegando aqui, a primeira resposta foi “não”. A segunda também, “não” de novo, pelas mesmas “razões pessoais”.

Como prêmio de consolação, o produtor de turnê de Perry fez um convite para ir ao camarim após o show, para ao menos tirar uma foto. Sem filmadora, sem microfone, sem roteiro, somente como fã. No camarim vazio (com presença apenas das respectivas), a primeira coisa que Perry falou foi: “é você quem está fazendo o documentário?”.

Respondi que sim e emendei “mas você não quer participar, né?”. Ele explicou seus motivos — nem tão convincentes assim — enquanto eu falava que era uma pena, que sem ele o filme não seria a mesma coisa. Perry foi mudando de idéia sozinho, até ele mesmo propor uma entrevista “de cinco minutos, para falar o que quiser, sem edição”, no dia seguinte.

Os cinco minutos viraram 17 e, no fim das contas, ele preferiu ser questionado do que falar o que parecia tanto querer. Perry não foi tão folclórico quanto se podia imaginar (assim como Mrs. Perry também não foi a pessoa difícil que tanto se comenta) e o papo só não durou mais porque ele estava atrasado para o vôo que o levaria para Recife.

Totalmente coerente, explicou porque incendiou seu estúdio, a Black Ark, sem rodeios, de uma maneira direta que, nem Chicodub, nem eu, havíamos visto/lido antes. Falou da importância espiritual da água nas suas produções e no seu bom estado físico. Explicou porque, de Paul McCartney aos Beastie Boys, todos o amam.

Assinou os papéis de liberação de imagem sem frescura nenhuma, despediu-se e foi isso. Quanta coisa boa em meras 12 horas.

Parte 3, o pós

Em seguida ao show do Lee Perry, ainda deu tempo de conferir o norueguês Prins Thomas, na Moo. O sujeito conseguiu ofuscar o seu ótimo set com um remix inédito e destruidor de “Gravity’s rainbow”, do Klaxons (música já remixada algumas vezes). Depois disso, nada soou tão bom.

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