A baleia de Amsterdã
Written by urbe, Posted in Urbanidades
O episódio da série “e2”, produzida pela PBS, sobre a revitalização da zona portuária de Amsterdã é uma aula de urbanismo. Assisti por acaso outro dia no Globosat HD – pena que a transmissão foi interrompida para exibição da reprise de um jogo de futebol.
Aqui no Rio pouco se vê governos investindo em tornar novas áreas atrativas, com estrutura. Fala-se da “revitalização do porto”, porém foca-se apenas em abrir empresas, comércio.
Não se escuta falar em construir um novo bairro, como foi feito recentemente na zona portuária de Amsterdã, atraindo jovens, recém-casados, gente formando famílias, iniciando a vida.
Daria para criar um novo bairro no porto, jovem, com moradias e escritórios acessíveis, bares, casas de show e toda estrutura que faz a zona sul tão atraente. Tornar uma região tão completa que ela rivalize com as mais conhecidas.
Teria muita gente se mudando para um lugar assim, simplesmente porque faria mais sentido morar ali do que pagar preços exorbitantes para morar em outro lugar.
A experiência no Rio nesse sentido é péssima, com conjuntos habitacionais em lugares ermos, abandonados. Muita gente tem falado da especulação imobiliária nas favelas, numa zona sul sem um palmo livre para novos empreendimentos. Não há preocupação em criar zonas residenciais e sim em afastar a “pobreza indesejada”.
O mais próximo de um novo bairro é a Barra, só que não tem um planejamento no sentido de atrair pessoas por algum motivo, é simplesmente expansão da cidade, replicando os problemas. E esqueceram das esquinas.
Em Amsterdã, como em Londres, os novos prédios obrigatoriamente possuem unidades de residências sociais, administradas pelo governo. No prédio dessas fotos, carinhosamente chamado de Baleia, o primeiro andar é social, a cobertura, casa de milionários.
Não há alternativa a integração que não seja a integração de fato. A zona sul não vai aumentar e não cabe todo mundo. Mais do que expandir, a cidade precisa reinventar seus espaços.
Putz, que fueda!!!
Minha mãe mora aí!!!!
É um bairro bem legal mesmo, 3 pontos de tram da Central Station. O prédio também é legal (o ape dela não é luxuoso não. 2 quartos, banheiro, sala/copa/cozinha).
Trouxe uma lembrança legal! Valeu!
Cara, bem interessante essa proposta de Amsterdã, mas acho que no projeto do porto tem algo de residencial sim, incluindo aí as vilas que vão abrigar árbitros e outros profissionais que vão trabalhar nas olimpíadas, além de espaços nas ruas internas. Realmente não acredito que tenha algo voltado para uma mistura de classes, digamos assim, como nesse projeto da baleia. Mas é um projeto bacana, descontando a questão do tráfego, que me parece mal resolvida ainda. De qualquer forma, é interessante que cada vez mais gente na cidade se disponha a discutir urbanismo – vide o Globo, que abriu um blog para o tema – e afins. Acho que a cidade ainda é muito pensada do ponto de vista da autoridade, ou do governante que circula pouco – ou da empreiteira que quer ganhar dinheiro – e precisa de ideias mais arejadas.
Enquanto isso, em Barcelona:
http://oglobo.globo.com/viagem/mat/2011/07/18/predios-modernos-parques-inteligentes-bairros-tranquilos-na-regiao-22-em-barcelona-924928297.asp
Se descobrirmos como combater a especulação imobiliária, já teremos andado mais do que a metade do caminho.
Cara, São Paulo tem o mesmo problema. Todas as áreas que estão passando por processos de revitalização estão sendo, na verdade, reapropriadas por ricaços, empresas e comércio de alto padrão. E a especulação imobiliária vai bombando.
é, bruno. outro dia estava assistindo a um filme de ficção intitulado “Porto Maravilha”(http://youtu.be/P5FVL9vfWm8) e imaginei que beleza seria se o centro se tornasse também residencial praquelas bandas da praça mauá. sou apaixonada pelo centro do rio e sempre tive o sonho secreto de comprar um sobrado na rua leandro martins, na proximidade da marechal floriano. hoje nem moro mais no rio, nem sei se um dia voltaria a morar. mas que ia ser bonito o centro revitalizado, isso ia.
Em Amsterdam tive muitos problemas para conseguir encontrar albergue, pois era Páscoa e tudo já estava lotado. Com ajuda de amigos acabei ficando no fim da cidade, depois da Rai Station. O apartamento era enorme e estava no esquema chamado de “anti-squat”, sendo que o cara que me hospedou pagava 120 euros de aluguel (!). Isso acontece quando o proprietário não encontra inquilinos dispostos a pagar o preço “normal” do aluguel e acaba baixando o preço para evitar que ele seja ocupado, o que depois lhe renderia grandes problemas para reaver o imóvel. Uma amiga que visitei em outra cidade morava sozinha numa casa de 2 andares também por módicos 120 euros…Esse contexto, de fato, faz a gente se perguntar por que estamos aqui na Cidade Maravilhosa, em meio a tantos problemas de moradia, serviços de transporte péssimos e tudo mais. Mas bem, o Rio é foda em todos os sentidos.
Quando visitei capitais e cidades médias de fora do Brasil achei estranho as pessoas morarem no centro, e depois acabei entendo que na verdade o centro é zona mais valorizada, muito diferente do Rio. No início do século passado realmente a regra era a mesma, mas só há pouquíssimo tempo começamos a cogitar essa boa idéia novamente.
Por aqui, nosso equivalente da Baleia são os edifícios conhecidos como “cabeça-de-porco”. Minhocão, Cruzada, Balança e por aí vai (na zona sul).
Sobre o “Porto Maravilha”, gostaria de saber a que tipo de serviço as tantas empresas que vão se instalar na zona portuária do Rio de Janeiro se prestarão. Alguém sabe dizer?
César Maia tentou instalar um sede duvidosa do Guggeheim por lá e acabou nos deixando um belo “elefante branco” ocioso chamado Cidade da Música na Barra da Tijuca…bairro super convidativo a atividades culturais. Quase 1 bilhão pra nada até agora.
O que será do Rio em 10 anos é uma pergunta ótima.
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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