A apoteose do Criolo
Written by urbe, Posted in Destaque, Música, Resenhas
“A pirataria é a nova rádio”. Prova das recentes palavras de Neil Young foi o Circo Voador superlotado (não “suuuper lotado”, de legal, lotado além da conta mesmo), com mais de 3 mil pessoas se espremendo para ver o Criolo em sua segunda passagem pelo Rio com “Nó na Orelha”, um dos melhores discos de 2011, distribuído gratuitamente em sua página. Quando o trabalho é bem feito, o grátis vai longe.
O carnaval ainda não chegou e Criolo já teve sua apoteose. O que se viu no Circo no sábado foi único. Não apenas por se tratar de um artista de São Paulo sendo aclamado no Rio, tendo seu nome urrado (é notório o quanto carioca implica muito mais com paulista do que vice-versa) ou todas as letras cantadas pelo público. Principalmente pela velocidade com que isso aconteceu.
Díficil dizer que a platéia era formada por amantes do rap, assim como não se pode dizer que era apenas a pleiboisada indo na onda. Estava lá a “atitude hip hop”, com a platéia batendo a mão no ar e cantando alto a citação a “Rap é Compromisso” (Sabotage). Estava lá também a atitude carioca, com muita gente alheia ao show e tomando uma cervejinha e batendo papo fora da lona. Tinha de tudo. É impossível determinar um perfil de público, o que ao mesmo tempo explica e torna mais difícil entender o fenômeno Criolo.
Tratado como um novo artista estreando, Criolo, há muito tempo na estrada, explodiu com seu segundo disco. Misturando rap, mpb, afrobeat e reggae, citações de Chico Buarque e uma penca de aparicões em listas de destaques do ano, “acusações” de ser gay (seja lá o que isso signifique…), o paulistano entrou em uma trajetória fulminante. É possível fazer um paralelo com a ascensão do Seu Jorge: as durezas do passado, a revelação tardia, a faceta crooner, um repertório que tanto pode ser visto como “eclético” quanto “atirando pra todo lado”.
Mesmo que o rap hoje seja mais uma influência do que uma constante no show, Criolo não se esconde . Político, disse que ninguém ali era burro e exibiu um cartaz onde se lia “os mortos de Pinheirinho nao me deixam comer”, em alusão ao protesto de greve de fome sendo feito por Pedro Rios em frente a sede da TV Globo.
Para alguém que estava há duas décadas tentando cavar seu espaço, não resta dúvida que o que o que catapultou Criolo para o sucesso foi a nova embalagem musical. Produzido por Ganjaman (que já havia chegado perto disso com Sabotage, morto precocemente), o disco acertou em cheio o público que mirou: suingueiro, pra cima, com uma banda de baile (herança das homenagens aos discos “Racional 1 &2” feitas pelo Instituto) impecável. Só o naipe de metais já vale o show.
O fenômeno Criolo é uma soma de tantos fatores (qualidade discurso e musical, livre circulação de mp3, a grande imprensa ter abraçado – sim, ainda faz muita diferença quando se fala de um público do tamanho do que estava no Circo – o momento sócio-econômico brasileiro – a história de vida dele ajuda a vender o “produto”, etc) que tentar encontrar o motivo principal do sucesso é um exercício inútil. Muito melhor é simplesmente aproveitar, já que poucas vezes esses sucessos vem aliados a um som de alto nível.
Que venha o bullying, mas como eu disse ontem, Criolo é meu Renato Russo. E desde quando Criolo era “doido . Ótima resenha Bruno, o show foi mesmo uma apoteose.
Manda esse post para o Fred 04, Bruno.
Não sei se estou certo, mas acho que o Criolo(sem gravadora) está tendo o mesmo alcance/ o mesmo tamanho de repercussão que o Chico Science(com a poderosa Sony por trás) teve.
Concorda?
O que isso tem a ver,cara.Para de coisa.Criolo vendeu dez mil copias do seu disco,mesmo com download.Vai de cada um,só que no caso ele teve muita propaganda,bafafá,publicidade,assim bem feito dá no que dá.Vai criticar o Fred 04 porque ele quer vender o seu produto?Ah,vá
Parar de coisa? Pô, cara, se as “coisas” pararem a Terra pára.
Saca só, a questão não é o Fred 04 dá de graça seu disco ou vender.
Isso é uma questão que só diz respeito a ele.
Agora, ele tem falado em entrevistas que sente saudade da indústria, que sem a indústria a máquina não anda.
O Criolo mostrou que não. Portanto tem tudo a ver com o post.
Só isso, cara.
Mas, enfim, deixa pra lá.
Não vi o show pois estava em SP mas aliado a todos os fatores muito bem colocados por você acredito que o sucesso dele deve-se ao fato dele ter “despaulistanizado” o trabalho ganhando assim maiores horizontes. Vida longa ao Criolo e seu amor por SP.
muito bom o texto, bruno!
abs.
o show foi muito bom, ainda melhor que o do studio rj.
e que música boa é essa “para mulatu”, hein! melhor música dele…
(gravada originalmente para o disco do gui amabis)
Realmente um público muito heterogêneo, pela primeira vez fui em um show de Rap e me senti em outros ares, logo que entrei já pensei um monte de playboy e patricinha seguindo a onda, mas como ele mesmo disse ” ali não tinha burro” porque me deixar levar pelo preconceito, claro que não se identificariam da mesma forma com letras das musicas, mas abriram um enorme espaço para que Rap saia das vielas, das favelas sem perder a essência e ganhe o mundo.
Eu estava lá. Foi simplesmente espetacular, inacreditável. Bom demais!!! Letras inteligentes, ótima voz e músicos. Amei e amo Criolo e os músicos. Muito obrigada a todos que proporcionaram tão especial momento.
o criolo é um artista verdadeiro e sincero, e cada vez que vejo ele falando admiro mais o cara. seu sucesso não tem relação com circulação de mp3 … é qualidade mesmo… e uma pequena ajuda pro produto chegar nos ouvidos certos.
Como não tem, MPC? E como chegou nos ouvidos?
Foi lindo sim! Uma energia que não circulava nos últimos shows que eu fui há tempos. Não sei se com todos é assim, mas quando eu ouço o som do Criolo sinto uma vontade enorme de me mexer e tentar mudar alguma coisa no meu país. É o som que fala do social, da precaridade, do preconceito, da vida na favela, das dificuldades que muitos que estavam ali sobre aquela lona não conseguem nem imaginar que exista de verdade.
Eu prefiro, nesse caso, ser Pollyana e pensar que a galera tava lá consciente do sentido – e da verdade – dos versos que estavam cantando, como eu estava. Consciente que tem gente que levanta às 4 da manhã pra trabalhar e só volta pra casa depois de horas em conduções precárias; tudo isso pra ganhar um salário mínimo e mísero. Consciente de que aquele cara que tava lá cantando e tentando abrir os olhos da plateia com as suas letras viveu essa vida há mais de 20 anos.
E o que mais me deixou feliz, além de vê-lo ser ovacionado pelo público, foi ouvir da boca do próprio que ele quase desistiu de cantar. E que é esse ‘quase’ que me faz sentir vontade de vir aqui e manifestar a minha opinião sobre esse show. Esse ‘quase’ que me faz vir aqui agradecer, mesmo que ele não leia.
Criolo, obrigada por não desistir.
Ótima resenha, Bruno.
🙂
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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