segunda-feira

18

setembro 2006

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5 perguntas – Alexandre Matias

Written by , Posted in Urbanidades

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Pra finalizar a série de mini-entrevistas com as atrações da festa de 3 anos do URBe, Alexandre “Il Padrino” Matias fala sobre mashups.

Explica melhor essa história de um set de mashups?

Bem didático: mashup – que também é conhecido como bootleg e bastard pop – é a colagem de dois ou mais trechos de músicas na criação de uma faixa nova. Na maior parte dos casos, consiste apenas da instrumental de uma faixa com o vocal isolado (os chamados acapella) de uma outra e via de regra as faixas vêm de universos diferentes.
Se você for ver na história da música, há dezenas de exemplos de pessoas grudando pedaços de músicas umas nas outras – do Pierre Schaffner ao John Oswald, passando pelos Dust Brothers e Frank Zappa. Mas desde que a internet popularizou a troca tanto de arquivos originários de músicas clássica quanto de programas de edição de áudio, o mashup tornou-se um gênero específico.
O marco zero pode ser rastreado na Parte 2 do disco “As Heard on Radio Soulwax”, dos 2Many, DJs e na faixa “A Stroke of Genius”, do produtor Freelance Hellraiser, ambas do primeiro ano do século 21. De lá até então, aumenta exponencialmente de mashups, de DJs e produtores de mashup, que forma uma imensa subcultura cuja matéria-prima é apenas a história da música gravada.
Pois o mashup – como uma cultura típica da internet – parece resgatar o interesse das pessoas no hábito de descobrir músicas novas a partir de músicas velhas. O mais legal é que quanto mais você conhece música, melhor você desfruta de um mashup. E não é um gênero de flashbacks, já que boa parte de seus produtores quase sempre buscam o atual single de sucesso para fazer seus mashups – só esse ano já rolou isso com “Crazy” do Gnarls Barkley, “Promiscuous” da Nelly Furtado e agora “SexyBack” do Justin Timberlake. É um bom termômetro pra o que está realmente fazendo sucesso (pois o mashup é um remix do inconsciente coletivo) e para testar a durabilidade e infaliabilidade de uma boa música.
Nem todo mashup é feito para pista – há mashups de lounge, soul e jazz – mas a maior parte é, e eu toco um set que vai ser composto basicamente por esse tipo de som – embora eu vá colocar um ou outro som “puro”.

O 2ManyDJs foram os precurssores disso?

Sim, mas, como eu disse, a dupla é apenas um dos responsáveis. É legal também isso – ao trabalhar basicamente com músicas alheias, a cultura mashup é um passo além da cultura techno/rave e seu culto à despersonalidade. Contudo, os 2ManyDJs têm o mérito legal da história – foram um dos primeiros mashupeiros a lançar um disco com todos os samples limpos por lei (ainda que apenas na região de Bénélux – Bélgica, Holanda e Luxemburgo). Mas eles são tão pioneiros quanto os Avalanches, a festa Booty, o DJ Danger Mouse ou a fita Brainfreeze do DJ Shadow e do Cut Chemist.

Qual a importância disso para cultura pop?

Mais gente ainda produzindo música, mais gente ainda trocando música online, mais música sendo produzida, renovação do interesse em descobrir música nova (mesmo que a partir de músicas velhas), redescoberta de gêneros inteiros do passado, o cruzamento de realidades que fingem não existir umas pras outras. E tudo pop deslavado, sem cabecismo estéril nem pretensões de vanguarda.
Começa-se a falar na produtização do mashup, não apenas musical, mas econômico como um todo. Saites fundem trechos de outros saites e criam um novo veículo – a cultura do tag (tipo de.li.cio.us) e do RSS é basicamente a cultura de mashups. Neste escopo maior, o mashupeiro também é conhecido como mapeador, o sujeito que funde informações de campos diversos para criar uma imagem mais aprofundada de uma determinada situação.

Porque ainda não apareceram mashups de música brasileira?

Já apareceram. O produtor João Brasil – dos clássicos instantâneos “Baranga” e “Supercool” – já fundiu Cidadão Instigado com Britney Spears em “Os Urubus Só Pensam em Te Comer, Britney” e “Sexual Healing” com Almíckar e Chocolate em “Som de Preto Gaye”. A produtora dos Princesa, DJ Mulher, lançou “It Ain’t Ghostwriter Babe”, casando RJD2 com Dylan. E o Gorky, DJ do Bonde do Rolê, mashupou “Atoladinha” com Franz Ferdinand e Black Eyed Peas com funk carioca. Ainda tá começando, mas já existe.

Deixe um top 10.

1.”ABC Breaker” – DJ Moule
2. “Hey Villain Boy” – DJ Zebra
3.”Barrell of a Goo” – Arty Fufkin
4. “Crazy as She Goes” – Legion of Doom
5.”J-Lo vs K-Co vs S-Wo” – Lenlow
6. “Wonderwall Tribulations” – Aggro1
7. “For Those About to Clown” – DJ Riko
8.”No Woman, No Mercy” – FuTuro
9.”No One Takes Your Freedom” – DJ Earworm
10. “Me Against the Monkey” – Team9

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