300 mil no Centro do Rio: o caldo entornou e isso não é bom #meus20centavos
Written by urbe, Posted in Destaque, Urbanidades
Passeata é algo desorientador, é muito fácil se deixar levar pelo fluxo, tanto literalmente, quanto intelectualmente. Nesse contexto, o trajeto escolhido já é um posicionamento político.
Cheguei na Av. Presidente Vargas pela Cidade Nova, em frente a prefeitura, e que vi era uma praça de guerra montada aguardando os manifestantes: cavalaria, choque, carros de polícia. Não tinha como dar certo, o confronto estava preparado, apenas aguardando para acontecer. Estava anunciado.
300 mil pessoas nas ruas (eram muito mais?) temperadas com uma boa dose de ingenuidade dão liga pra muita coisa ruim. Andando na contra-mão da passeata, vi jovens com a blusa na cara saindo na porrada com outros jovens com bandeiras, cartazes rasos e gente tomando cerveja curtindo o momento.
A atmosfera era tensa e toda hora pipocava uma correria. Não se via policiais no meio da multidão para ajudar a organizar minimamente (porque de um jeito ou de outro isso continua sendo o trabalho da polícia).
O que mais espantava eram os carros de som e, principalmente, as reações às vozes berrando no microfone. “Fora Dilma!”, “Abaixo a PEC 37!”, “Dudu, vai tomar no cu”, “Tomar no cu, Cabral!” eram comemorados de maneira inconsequente, como se tudo fosse uma grande festa, sem analisar os significados e implicações daquilo. Fossem os gritos “Quem sabe o que é PEC 37?” e a reação poderia ter sido o silêncio.
Essas demandas vazias são muito perigosas porque escondem agendas. Você já deve ter lido por aí sobre ameaças de golpe da direita, da esquerda, dos militares, no momento todas leituras são possíveis. Os quebra-quebras são apenas a parte visível disso. O Chris compilou os piores momentos da ronda policial fascista pelo Centro, Lapa e Laranjeiras após os protestos no Resistro, confira.
É impressionante a velocidade com que esse movimento essa movimentação mudou de figura. Começou contra o aumento das passagens, virou um “quero tudo” e ontem, lamentavelmente, as coisas tomaram um rumo preocupante. Não dá pra ir pra rua e querer resolver os problemas do mundo de uma só vez. Toma tempo.
Ter foco nas reivindicações é importante para evitar que as manifestações sejam utilizadas politicamente por algum grupo específico (vide o sucesso, ainda que parcial, do Movimento Passe Livre ao ter uma meta bem clara).
Pode ser hora uma boa hora de dar uma freada, as passeatas devem diminuir de volume e isso pode ser positivo. Não para deixar de exigir mudanças, mas para para tentar entender de que maneira essas manifestações estão sendo utilizadas pelos atores políticos e pela imprensa, mudando de opinião e abordagem a todo tempo, e compreendida pela sociedade. Sem alarmismo , apenas uma pausa para reflexão.
Enquanto isso, voltarei com a programação normal por aqui. Continue acompanhando as notícias pela home d’OEsquema.
Cuidado com os discursos simplistas e listas de reivindicações escorregadias espalhadas pela rede. Leia. Respire. Pense. Pesquise. Confirme. Filtre. Pense um pouco mais. Só então publique ou compartilhe algo. Como dizem os coleguinhas, “a paranóia é a melhor amiga do jornalista” (é um ditado da profissão, não um convite para ninguém ficar paranóico).
É sempre bom desconfiar da unanimidade, a cerca de qualquer assunto. Desinformação é uma arma poderosa.
Pq essa semana ao digitar “oesquema” no google, nao aparece mais a pagina inicial nas respostas? Intrigante.
Tbm gostaria de saber.
concordo completamente! otimo texto.
ando comparando o momento atual do movimento com um “gargalo biológico”, onde é necessário diminuir de tamanho para reavaliar o que realmente deve ser levado adiante.
voltaremos aos milhoes, mas com mais organização e agenda. ainda exsite uma grande lista de reinvidicações suprapartidárias que deve ser abraçada por centro, direita e esquerda sem necessidade de levantar/quebrar bandeira.
sobre a pec 37, também concordo. eu mesmo admito que comecei indo na onda, mas quando parei pra ler, repensei. e sempre que tento levantar o debate, pouquissimas pessoas demonstram conhecer sequer um resumo da mesma.
Texto muito bom. Seu sentimento é compartilhado por muitos. Cartazes contra a corrupção são válidos, mas isso pode ser vazio de conteúdo. Por trás da indignação de muitos, há algo muito pior: o analfabetismo político. E aí está o risco para a formação de uma massa de manobra. O importante agora é focar em pautas concretas e sem qualquer viés golpista. A campanha pela CPI do Ônibus é um exemplo. Aqui no Rio, faltam poucas assinaturas para que o projeto seja aprovado. Enfim, essa é apenas uma ideia. O mais importante é que os manifestantes sejam mais conscientes em relação às suas reivindicações.
Não sou jornalista e acho que não sou paranoico. Mas com o avançar dos dias, uma luz amarela ficou piscando na minha cabeça. Tava muito bonito de fato ver o povo tomando as ruas. Muito bom pra ser verdade, eu dizia…
Teoria da conspiração, tentativa de golpe, direcionamento da mídia, bandidos infiltrados enfim, cabe tudo aí porque a ignorância política do povo e a ausência de objetivos concretos para os quais se manifestar são campo fértil para qualquer manobra.
Duas imagens me incomodaram muito ao ver os protestos. A primeira é a insistência de se utilizar nariz de palhaço para protestar.
A segunda são os cartazes ”saimos do facebook”. Sério? Os jovens brasileiros resolveram parar de postar idiotice e foram pra rua, assim, do nada? Foi tédio o que aconteceu? Que tal uma estadia no wikipedia antes de sair gritando clichês rasos.
Quando vejo esse pessoal, a figura que me vem a cabeça é a de um adolescente que ficou a madrugada toda na internet e acordou lá pelas 10:30 do dia seguinte. Sem saber se tomava café da manhã ou esperava o almoço, resolver protestar porque tava com fome.
E a turma com a cara pintada?
pô até vcs, acreditaram na rede bobo
éramos 1,4 milhão
Eles derrubaram o Colliforme né… 🙂
Cantavam ”alegria, alegria” enquanto a Globo transmitia a série Anos Rebeldes sobre jovens revolucionários que eram ”do bem”. A presidente Dilma tem sua conexão com essa história
Mark Twain disse que a história não se repete, ela rima.
Dessa forma, vejo com muita atenção os próximos acontecimentos em Belo Horizonte no jogo do Brasil na quarta-feira. Historicamente MG foi palco de importantes reviravoltas políticas e a polícia daqui é protagonista desses momentos – para o bem ou para o mal.
/URBe
por Bruno Natal
Cultura digital, música, urbanidades, documentários e jornalismo.
Não foi exatamente assim que começou, lá em 2003, e ainda deve mudar muito. A graça é essa.
falaurbe [@] gmail.com
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