quinta-feira

10

setembro 2015

0

COMMENTS

Transcultura #169: Zoeira // Tame Impala

Written by , Posted in Imprensa, Música

zoeira_ziphophop
DJ Negralha, Marcelo D2, Aori e Marechal na Zoeira, em 1999

Texto originalmente publicado na “Transcultura”, coluna que publico todas as sextas no jornal O Globo.

Marco do hip-hop carioca no fim dos anos 1990, festa Zoeira ressurge, sábado, no La Paz
Edição especial acontece no mesmo bairro que ajudou a revitalizar, unindo DJs e MCs da nova e velha guarda
por Bruno Natal

Falar da festa Zoeira, catalisadora da cena de hip-hop carioca citando a letra do hino “Melô da Zoeira” (“Hip-hop Lapa Sábado Zoeira/ Levanta a poeira, não tô de bobeira/ Se quiser zoar, esse é o lugar/ Riachuelo 19, L.A.P.A.”) é um clichê inescapável. Tanto as rimas quanto o time envolvido nas batidas (Marcelo D2, Marechal e Aori, sobre bases dos DJs Babão e Negralha) resumem em poucas palavras os encontros na extinta Sinuca Palácio dos Arcos, a partir do fim dos anos 1990, que também foi cenário da foto da capa e do clipe de estreia do Planet Hemp.

— Eu fazia o festival SuperDemo, no Circo Voador, quando o Cesar Maia mandou fechar a casa. A Lapa ficou deserta — lembra Elza Cohen, idealizadora e produtora da festa, que volta amanhã, em edição especial, no La Paz — . — Após o SuperDemo virar selo da Sony, trabalhando na produção do disco “Usuário”, do Planet, e procurando locações para o clipe de “Legalize já”, encontrei a Sinuca com o D2. O lugar era muito interessante. Gravamos o clipe e na semana seguinte fui lá agendar a Zoeira.

Para marcar a volta, atrações clássicas, como os DJs Pachú, King Mack, Castro, Woo e o MC Aori juntam-se a crias, diretas e indiretas, como Stephan Peixoto, Marcão Baixada, Lil Mila e Nacho Garcia e Nicole Nandes. Dedicada à fotografia e morando em São Paulo, Elza fará retratos dos frequentadores para uma série.

A primeira Zoeira, em 1998, contou com o próprio D2, Kassin e BNegão nos toca-discos. A partir de uma nota convidando artistas para a festa publicada na seção Rio Fanzine, do GLOBO, principal veículo da cultura alternativa da cidade na época, chegaram os grafiteiros Binho, Fabio Ema, Eco, Akuma Crespo, Ment, Mackintal e grupos de break como GBCR e Atari Funkers. Ao reunir num só lugar uma cena que estava dispersa pelo Rio, a festa se consolidou como a casa do hip-hop.

— Conheci o MC Marechal numa loja comprando discos. Ele foi à Zoeira, pegou o mic e mandou um freestyle, de cabeça baixa e olhos fechados, todo tímido. Quando terminou, estava todo mundo vibrando — recorda Elza.

Daí em diante, todo sábado MCs como Black Alien e D2 e outros ainda desconhecidos, como Aori, De Leve, Shawlin, Dom Negrone e Mahal passaram a bater ponto ali. E a eles juntaram-se DJs como Castro e Pachú.

Praticamente todos os principais nomes do hip-hop nacional e algumas estrelas internacionais passaram por lá: Madlib, JRock, Eric Coleman, Negralha, Tamenpi, Babão, KLJay, Primo, Nuts, Zegon, Fleshbeck Crew. A festa, que seguiu na Sinuca até 2001, rendeu ainda uma coletânea para revista “Trip”, “Zoeira”, onde o hino foi lançado.

A missão agora, diz Elza, é encaixar a Zoeira — de volta à mesma Lapa que ajudou a revitalizar — no novo momento do hip-hop, que passou de underground a um dos estilos mais bem-sucedidos do planeta. Orgulhosa, ela ressalta que todos que participaram da festa e da coletânea continuam ativos.

— Aori está lançando EP, Marechal finaliza seu primeiro álbum, De Leve e Shawlin gravaram discos e fazem shows pelo Brasil, Pachú é um dos mais requisitados DJs do Rio, Castro toca com Black Alien e BNegão, João Woo e Nepal, do Apavoramento, também viraram DJs na Zoeira — lista Elza. — Tudo é um ciclo, mas a proposta de evolução da festa continua.

Tchequirau

Chegou o terceiro disco do Tame Impala. “Currents” é bem diferente dos outros, focado no synthpop dos anos 80 em vez do rock psicodélico dos anos 70, sem perder a personalidade da banda. Ouça “Eventually”.

Deixe uma resposta

Deixe uma resposta