antonio engelke Archive

quarta-feira

8

maio 2013

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Motorista de ônibus, o vilão da vez

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Um trecho de “Escute do Motorista ao Menos o Indispensável”:

“O vilão da vez é o motorista de ônibus. “Sem punição, ônibus não param de matar no Rio”, lê-se na capa do jornal O Globo de 1o de maio. Dado que ônibus não dão a partida por conta própria e saem por aí atropelando pessoas a esmo, resta evidente que quem não “para de matar” são seus motoristas. Em tom apelativo, a manchete estabelece uma relação de causa e efeito cujo efeito é obscurecer o entendimento das diversas causas que contribuem para dar forma à violência no trânsito. Não se fala em traços culturais, como o individualismo predatório, a falta de educação generalizada, inclusive de ciclistas, ou o desprezo arraigado pelas leis. Não se fala em aspectos estruturais, como o trânsito cada vez mais caótico, resultado de um projeto de cidade pensado para atender ao interesse de grandes empresas, ou o pouco investimento em ciclovias, ou ainda o relacionamento promíscuo entre a Fetranspor e o poder público carioca. Nada disso: as fronteiras que definem o terreno em que deverá ser debatida a questão da violência no trânsito são demarcadas exclusivamente por duas noções, vigiar e punir.”

Siga lendo o texto do Antonio Engelke na Pittacos.

quarta-feira

28

setembro 2011

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Cerveja e sangue no UFC Rio

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foto: UFC

(…) o estereótipo, disse Barthes, é o vírus da essência. Sim, o esporte é violento – e no entanto, há mais mortes no Boxe do que no MMA. Do mesmo modo, é difícil não reparar na aparência dos fãs hardcores, de quem a maioria das pessoas prefere guardar distância segura. Ainda que façamos o esforço de suspender pré-conceitos a fim de observar participando – e reparar na orelha estourada o símbolo máximo de pertença ao grupo, espécie de “você sabe com quem está falando?” não-discursivo; na predileção metonímica por cães da raça pitbull; ou na homofobia que decorre do fantasma que lhes persegue secretamente a (in)consciência: o fato de sentirem prazer em agarrem-se a homens suados –, ainda que procuremos percorrer com um olhar ingenuamente curioso os corredores que dão acesso ao camarote de número 6 do HSBC Arena, a agitação nervosa da atmosfera do lugar e a ansiedade de achar os assentos que nos cabiam impedem maiores vôos. Perdoem. Eu não estava lá para fazer antropologia. Eu estava lá para ver porrada.

O sociólogo Antonio Engelke conferiu o UFC Rio e publicou o relato na revista Pittacos. Lendo assim nem parece que se trata de um dos maiores fissurados no esporte no Brasil.

quinta-feira

2

dezembro 2010

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Rio, violência e imprensa

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Luis Eduardo Soares no Roda Viva: indispensável assistir
assista os blocos 2, 3 e 4.

Não se discute que a expulsão de traficantes do Complexo do Alemão é um fato positivo. É uma parte do problema que precisa ser resolvida, em todas as comunidades.

Outro fato positivo foi não tido um banho de sangue, embora tivesse sido o desejo de muita gente, inspirando até jogos online. Mesmo assim, houve acusações gravíssimas de moradores achacados pela polícia.

Tomada pela euforia, a cobertura da grande imprensa se absteve de dar espaço a uma série de questões que são fundamentais e inerentes ao problemática da violência urbana.

O problema é muito maior do que uma mera polarização entre policiais e bandidos. Quem dera fosse tão simples.

Por isso, compartilho aqui alguns textos que considero de leitura fundamental, mesmo para quem não é do Rio, para o entendimento do que está de fato está em curso — e em jogo.

Luis Eduardo Soares, “A crise no Rio e o pastiche midiático” (blogue pessoal)

Luiz Cláudio Souza Alves, “Guerra do Rio – A farsa e a geopolítica do crime” (Correio do Brasil)

Antonio Engelke, “O capitão Nascimento e o advogado John Adams” (Carta Capital)

Muniz Sodré, “Reality show em tempo real” (Observatório da Imprensa)

Sem debater e encarar essas questões, não vamos sair do lugar. Não tem jeito.


Tirinha de Andre Dahmer

quarta-feira

20

outubro 2010

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A tropa, a elite e o sistema

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Ótimo texto de Antonio Engelke, publicado no Globo na última terça (atenção: SPOILERS, de leve):

O primeiro ‘Tropa’ veio saciar os anseios de uma população amedrontada, sedenta por vingança. Em 2007, capitão Nascimento vingou as classes média e alta carioca, fazendo o que elas gostariam de fazer, se pudessem: matar bandidos. O público respondeu com aplausos entusiasmados, e se identificou com o oficial do Bope. Tal identificação é retomada logo no início do ‘Tropa 2’, quando Nascimento ridiculariza Fraga. Mas o personagem interpretado por Wagner Moura sofre uma transformação, sai de sua trajetória natural de ‘Caveira’. Se o público chegar ao final do filme ainda se identificando com Nascimento – alguém que denuncia a ineficiência da política de segurança pública baseada no confronto, que diz com todas as letras que a sociedade é coautora dos crimes cometidos por policiais e bandidos -, então ‘Tropa 2’ terá servido a um propósito maior do que o mero entretenimento. É preciso ser muito, mas muito fascista, para sair do filme e continuar ridicularizando a perspectiva e o trabalho de pessoas como Fraga (Marcelo Freixo na vida real, deputado federal pelo PSOL).”

Continue lendo no saite do jornal.

Para complementar, leia a entrevista que fiz com o diretor José Padilha sobre o filme e suas questões e também algumas reflexões de Rodrigo Cássio sobre o título de herói fascista.

quinta-feira

2

setembro 2010

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É guerra?

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Guerra no Rio de Janeiro
foto: jornal Extra

“Quando alguém usa o conceito de “guerra” para se referir ao que acontece no Rio, está na verdade se valendo de uma metáfora. Não há, no sentido literal do termo, uma guerra militar ou civil. Só se pode falar em “guerra civil” quando há objetivos políticos envolvidos, como por exemplo derrubar um regime, tomar o poder, fazer uma revolução. O que há são eventuais confrontos entre a polícia e facções rivais de marginais que exploram uma atividade ilegal e lucrativa. Mas as semelhanças com uma guerra são muitas, e é em função delas que nos acostumamos a pensar no problema da segurança pública carioca como se fosse uma guerra. Uma metáfora faz exatamente isto: ela nos leva a entender e experimentar um tipo de coisa nos termos de outra.”

O sociólogo Antonio Engelke levanta uma questão polêmica no texto “A Metáfora da Guerra”, publicado semana passada na sessão Opinião do jornal O Globo. Pra fazer par com as questões levantadas por Fabio Lopez no jogo “War In Rio”.