segunda-feira

30

novembro 2015

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Invasão Novas Frequências: entrevista com Timespine

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timespine_novasfrequencias2016

Terceiro post da série Invasão Novas Frequências, organizados pelo idealizador do festival Novas Frequências, Chico Dub.

De Portugal, o Timespine, que também é um trio, toca canções folk em fluxo de consciência, em uma torrente hipnótica de dedilhados suaves e não convencionais, eruditos e improvisados. Os instrumentos são o baixo, o dobro (que é aquele instrumento tradicional do blues) e um zither (que é tipo uma sitar). Belíssima abertura pro Dawn of Midi, mostrando que o espectro sonoro do Novas Frequências pode ser bem amplo, inclusive abrançando propostas mais ligadas ao folk e ao jazz.

timespine from raquel castro on Vimeo.

Chico Dub – Como fazer música de vanguarda com instrumentos de corda tradicionais?

Timespine – Antes do mais talvez seja bom sublinhar que há muitas tradições vanguarda, também. Nós não nos esforçamos por ir contra tradições, acontece-nos naturalmente não podermos ser rotulados; talvez precisamente porque a nossa música evoca muitas outras, filtrando-as, evitando desenvolvimentos fáceis. Para além disso, temos uma afinação própria, à volta de B, F#, A, mas não exactamente. E também, a zither vienense foi um instrumento tradicional, mas a Adriana modificou-o. Usa cordas de baixo, guitarra acústica e guitarra Portuguesa; algumas cordas tem brilho no timbre, e outras tem o timbre seco da antiguidade.

Chico Dub – Vindos de círculos artísticos variados, o que cada um de vocês traz, pessoalmente, para o conjunto da obra?

Timespine – Os timespine tem utilizado uma mesma partitura gráfica feita pela Adriana, que indica estrutura sequencial, vocabulário sonoro, densidade e texturas, sem tempos-relógio ou notas. Essa partitura permite que cada um vá explorando o que quer, de modo que a que o espaço de criação tem sido inesgotável. O baixo do John tem uma herança de rock, mas curiosamente, é extremamente melódico. O dobro do Tó tem alma de música portuguesa. A zither da Adriana pode por vezes fazer lembrar outros instrumentos como violino ou cello, ou guitarra, ou instrumentos de sopro. Os “papéis” de cada um na dramaturgia da música talvez fossem mais distintos quando começámos a tocar juntos do que agora, após vários anos: o Tó romantizava, o John fornecia base e a Adriana evitava que houvesse desenvolvimentos fáceis. Talvez ainda assim seja, mas agora por vezes também trocamos de papéis…

Chico Dub – Como está a cena portuguesa de música experimental/avançada? Há espaço e infra-estrutura para que a maioria dos artistas consiga viver de música?

Timespine – A cena portuguesa é extremamente activa, com muitos músicos fantásticos. Não há falta de espaços para tocar. E o John dirige um estúdio de gravação (“ScratchBuilt”) que tem andado muito agitado. Mas agora, quanto à maioria dos artistas poder viver da música, talvez não. Pelo menos não com financiamento público…

Chico Dub – Qual o sentido do tempo na obra do Timespine?

Timespine – Unem-nos ritmos biofísicos, comuns às mais diversas lógicas musicais. São uma verdade profunda, muito anterior às nossas vidas.

Chico Dub – Qual o clima que vocês pretendem criar nos shows de vocês, e particularmente no show do Novas Frequências?

Timespine – O clima variável de uma viagem de balão, através do tempo, por vezes com vento…

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