quarta-feira

10

março 2010

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Anotações de viagem: Camboja

Written by , Posted in Anotações de viagem, Urbanidades

A chegada ao Camboja engana. A recepção fria e seca dos militares assusta e não passa uma imagem fiel do país ou de seu povo.

Preocupados apenas em coletar o dinheiro dos vistos, os responsáveis pela função dão atenção especial para tarefa de sobretaxar o valor de 20 dólares, arredondando para cima o que ja é redondo, roubando 5 dólares por turista. O lucro é alto agora que o pais é bastante visitado.

Pra completar, a taxa de saída são mais outros extorsivos 25 dolares, mais do que se cobra pra entrar!

Tal comportamento não chega a ser surpresa num país conhecido por uma guerra civil recente, quando o sanguinolento Khmer Vermelho dizimou a própria população com o apoio dos militares. A paz é ainda muito nova.

Apesar de descarado (o valor real do visto fica a mostra num luminoso e vem carimbado no passaporte), nem passa pela cabeça reclamar do golpe. Atrás do guichê ficam um dezena de militares: um para pegar o passaporte, outro pra levar, um terceiro pra receber o dinheiro, outro pra dar o troco, mais um pra devolver o documento… Melhor não, deixa pra lá.

Uma vez dentro do Camboja, descobre-se um povo muito amigável, educado, solícito e organizado. As ruas são limpas, diferente do que se espera encontrar em um dos países mais pobres da Ásia. Os hotéis e bares, principalmente em Siam Reap, são arrumados e contemporâneos, provavelmente pertencentes a europeus ou cambojanos repatriados.

As pessoas são alegres, brincalhonas e mesmo os pedintes ou vendedores de rua não são tão insistentes como na Índia ou Tailândia (tirando os de Angkor Wat, batendo recordes mundiais, podendo ser considerados chatos até pelos indianos).

Outra grande surpresa são os preços. O Camboja não é barato. Seria exagero dizer que é caro, mas é bem mais caro do que os seus vizinhos. Nada custa menos de 1 dólar e geralmente as negociações de coisas pequenas começam logo em 2 dólares, valor mágico nas ruas.

Parte da culpa é exatamente o dólar ser a moeda oficial do comércio, encarecendo tudo ao arredondar valores. São preços irreais, que não condizem com os custos do pais, mesmo considerando-se que o Camboja não possui indústria e quase tudo é importado. Eles cobram o que você pagaria em qualquer outra cidade, o que não é a matemática correta em nenhuma economia.

Nas duas principais cidades, a pequena Siem Reap ou a capital Phnon Penh, os motoristas de tuc-tuc ou de motos (transporte muito utilizado, levando até três pessoas) não sabem o nome das ruas ou onde fica nada. E não se trata de golpe, uma vez que o preço é fechado e eles perdem tempo e combustível com a confusão.

Na noite que chegamos em Phnom Pehn, a ida ao melhor restaurante da cidade foi uma saga. Era perto do hotel, havia um mapa com o local marcado, além do endereço. O motorista se perdeu, ninguém sabia informar como chegar e foi tanto desencontro que saímos andando, sem nem pagar pela corrida.

Ao ligar para o restaurante de um outro lugar, o próprio dono foi nos buscar de moto. Era numa esquina das duas principais ruas da cidade, a entrada marcada com um luminoso gigante.

O melhor de andar por Phnom Pehn e caminhar de um templo para o outro, observando a vida local. Os meninos fazendo altinha com peteca, as meninas com raquetes, e gente de toda idade dançando em grupos numa grande praça.

No final de tarde, diversos aparelhos de som são montados pela praça. As velhinhas fazem aulão de aeróbica, os jovens criam e executam coreografias para sucessos do pop internacional, sendo seguidos por quem quiser chegar junto. Difícil é não participar, já que se você fixar olhando muito será convidado a se juntar.

Os campos de extermínio do Khmer Vermelho são para muitos a grande atracão da cidade. Todo motorista vai propor uma corrida pra lá (também pela distancia, é claro) e o local é sempre citado em panfletos e sugestões de passeio. Tô fora desse tipo de visita baixo astral. Fui a Dachau uma vez, contrariado, pra nunca mais.

Em todo caso, levanta a mão quem não ouviu falar do Camboja justamente pela guerra civil, Khmer Vermelho, as minas terrestres, a legião de amputados… Talvez por serem recentes, esses fatos são comentados muito mais até do que os templos de Angkor Wat.

Goste ou não disso, são um dos pontos de venda do pais como destino turístico. A quantidade de livros sobre o regimes suas atrocidades disponíveis na loja de livros do aeroporto confirmam que essas histórias são também um amargo souvenir.

Deve ter sido isso que o ministro haitiano queria dizer quando declarou que o terremoto avassalador seria bom para o pais. É uma desgraça sem tamanho, mas colocara o país no mapa e no centro da mídia até mais do que sua própria guerra civil. Isso pode trazer apoios governamentais, ONGs, etc.

Taí o Camboja pra provar. Sem falar na adoção de crianças orfãs por famosos, a moda da vez.

Na estrada de Phnon Penh para Siam Reap dá pra ver um pouco do lado rural do país. Dentro do ônibus, a usual hospitalidade cambojana: lanchinho, explicações num inglês esforçado que você não encontra, por exemplo, na Tailândia, e sorrisos.

O povo do Camboja é generoso. Todo lugar que você sentar te oferecem água, se você comer lhe dão frutas ou alguma sobremesa local sem cobrar por isso. Além disso, como os brasileiros, fazem piada e se zoam sem parar, estão sempre rindo.

Mesmo quando uma barganha deixa um vendedor bravo – eles não gostam muito do esporte – uma piadinha qualquer arranca risadas e zera qualquer mal entendido.

A área por onde se espalham os templos de Angkor é enorme, por isso fretar um tuc-tuc é indispensável e ter um guia, aconselhável. O total não é barato: 20 dólares para entrar, 15 pelo tuc-tuc e 25 pelo guia. Os dois juntos agilizam o passeio, possibilitando ver o essencial em um dia. Para se ver tudo, aconselha-se três dias.

O parque é muito bem cuidado e as construções impressionam pelo tamanho e principalmente pelos detalhes. Templo hindu transformado em budista, Angkor foi saqueado durante guerras, depredado por vândalos e fanáticos religiosos hindus, que rasparam o rosto dos budas talhados nas paredes de pedra e destruíram estátuas.

Durante seu regime Maoísta, o Khmer vermelho destruiu os mais de 3 mil templos budistas do país e matou milhares de monges, considerados parasitas. Felizmente, deram pouca atenção a Angkor, apesar dos buracos de bala na parede. Ainda bem. Podia ter sido bem pior.

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  1. Edson

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