segunda-feira

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novembro 2015

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#AgoraÉQueSãoElas, por Jô Hallack

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Pra fechar, o quinto post da série ‪#‎AgoraÉQueSãoElas, movimento convocado pela Manoela Miklos. Após a repercussão da série de posts femininos #MeuPrimeiroAssédio, Manoela propôs que homens cedessem seus espaços editoriais para que mulheres ocupassem e pudessem propagar o próprio discurso.

Com a palavra, a menina Defeito,  Jô Hallack:

O encontro da Mulher Sonsinha com Deus
por Jô Hallack

Não é fácil ser mulher e bancar os desejos num mundo feito para os homens. Eu (e meus ossinhos quebrados) ainda acho que vale a pena. Que talvez seja o único jeito de se sentir viva pra valer. Este texto – que não é inédito – é meio sobre isso e sobre as mil mulheres que moram dentro da gente.”

Ela queria muito aquele cara, muito mesmo, coisa de louco. Mas tinha como regra de vida sempre se fazer de difícil. Era seu artifício, dizia que só assim ele ia ficar na dela, o lance era prolongar o desejo ao máximo. O desejo dele, no caso. Os homens gostavam disso, garantia, e ainda citava um Freud de mentira (jamais tinha lido!). Sim, ela era uma sonsinha. Naquela noite, encontrou seu príncipe encantando, que chegou em um cavalo branco imaginário. Mas ela fez que não, fingiu que não, foi um tal de não prá cá e não pra lá, sobre amanhã ainda nem pensei. E quando estava indo embora atravessando a rua, veio o truque final: a olhadinha para trás. Vocês sabem, né? Aquela olhadinha “eu sei que você quer e eu também quero mas … me assista ir embora”. No que ela jogou o cabelo e foi virando o rosto cheio de BB cream, pronto. Um carro pegou a coitada. Uma tristeza, gente.

A Mulher Sonsinha acorda nas portas do céu. E é aí que vem a surpresa. Deus é mulher. E uma mulher e tanto, uma mulher fodona, sem paranoia besta, uma mulher cheia de desejos, a mulher que todas nós queremos ser um dia. Deus não fica pensando demais, Deus não faz a louca, não fica cheia das autocríticas. Porra, Deus, você é demais, mulher. Também, sendo Deus fica fácil. Além de ser uma espécie de Super-Heroína, Deus – que criou o mundo inteiro porque antes nada havia- não tem mãe, nunca teve, nem terá. Assim, até eu, né querida, quer dizer, me desculpe a intimidade, até eu, Deus. Quer dizer, Deusa.

E tem mais um detalhe: ao contrário da Mulher Sonsinha, que está vestida com um camisolão branco de filme espírita, Deus está pelada.
Absolutamente, totalmente, maravilhosamente nua.
Fim.

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