A fuga do Cícero
Written by Bruno Natal, Posted in Destaque, Música, Resenhas
Transpor “Sábado” para o palco não é tarefa fácil e no sábado Cícero teve certeza disso no show de lançamento no Rio. O caminho escolhido, uma banda nas expectativas dos fãs, o levou para mais longe da MPB que estranhamente categoriza os arquivos digitais distribuídos gratuitamente.
Num Teatro Rival cheio de fãs dispostos a ouvir as músicas do novo disco, a reação ao repertório variava de acordo com a origem da música: urros e coros no primeiro disco, atenção e letras cochichadas nas do segundo. O show precisará encontrar arranjos que consigam equilibrar momentos tão distintos. Para isso, as músicas de “Sábado” precisarão se adaptar ao palco, as micro explosões que acontecem nos fones tem que se ampliar para bater no peito e ouvido de quem está de frente pro som.
Esse momento pode ser de transição e primeiro passo para o resto da carreira de Cícero. Músicas “Fuga nº 4” e seu título sugestivo, cheia de paisagens e vazios, exclamam “calma!” em toda parte. Estranho dizer que é um disco pra ouvir, não pra gerar memes.Tal qual fez o Los Hermanos em seu “Bloco do Eu Sozinho”, o compositor alienou parte dos fãs para encontrar o próprio caminho. Um deles é o do formato ao vivo.
Goste ou não disco (gostei bastante), não se deveria esperar outra coisa de um artista e isso por si só é bom.
Acho o Sábado muito bom e até melhor que o Canções de Apartamento. Me instiga mais. O Cícero tem essa característica de ser arrastado, lento, em quase tudo que faz. No Sábado ele enfatizou isso. Deixou de lado os ganchos pop bobos (e eficazes) e entrou numa onda de texturas e climas que me agrada muito. Me parece uma versão deprimida e abafada do English Riviera, do Metronomy. Agora, com certeza ele não vai lotar mais casas pelo país com esse disco. Além dele, eu e uma meia dúzia, ninguém quer ouvir som-textura-arrastado-triste-final-de-tarde.